• 9 de maio, 2024 21:49

“Só por hoje e para sempre” – Renato Russo. Por Luciana Bessa

ByDudu Correia

mar 25, 2022

Por Luciana Bessa

Na Coluna Nordestinados a Ler no jornal Leia Sempre

 

“Tem gente que machuca os outros

Tem gente que não sabe amar…” (Mais uma vez)

 

“Ninguém respeita a constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação…” (Que país é esse?)

 

Quem um dia irá dizer que não existe razão

Nas coisas feitas pelo coração…” (Eduardo e Mônica)

Poeta-músico ou músico-poeta, eis a dúvida. Renato Russo (em homenagem ao inglês Bertrand Russell, ao suíço Jean-Jacques Rousseau e ao francês Henri Rousseau), deixou-nos algumas verdades absolutas e outras inventadas, como observamos acima.

Nascido Renato Manfredini Júnior, em 27 de março de 1960, foi um jovem como tantos outros que palmilhou uma estrada pedregosa, não a de Minas Gerais, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, que adorava exaltar, mas a do Rio de Janeiro (onde viveu parte da infância) e Brasília (onde viveu a juventude) e que experenciou alguns desafios: epifisiólise, doença óssea; envolvimento com drogas e a descoberta da bissexualidade.

Cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista, líder, vocalista e fundador da banda de rock Legião Urbana, Renato Russo foi um dos letristas com uma carga poética, crítica e narrativa extraordinária capaz de representar uma geração, escancarando temas que tocavam em questões sociais (“Faroeste Caboclo”), a capacidade transformadora da mulher (“1º de julho”), a exaltação de amores, desde os fracassados aos estranhos (“Strani Amore”), refletindo sobre assuntos seríssimos como o suicídio (“Pais e Filhos”) e o aniquilamento do homem pelo homem (“Índios”). As raízes familiares foram retratadas no álbum em italiano “Equilíbrio Distante” (1995).

Quando questionado sobre seu processo criativo, Renato Russo, em uma carta escrita aos seus fãs, era rápido na resposta: “Uma boa idéia rapazes é LER LIVROS, aí verão que não sou tão original assim”. A originalidade é um tema instigante dada a ilusão de que se trata de algo totalmente novo e natural. A originalidade é a capacidade do artista reinventar, reelaborar, recriar, refazer. Na condição de leitor, Renato Russo nos legou múltiplas referências literárias, como “Monte Castelo” (adaptação do capítulo 13 da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios e o Soneto 11 de Luís de Camões), “Love Song” (baseada nas Cantigas de Amor do Trovadorismo português), “Pais e Filhos” (inspirada na obra de mesmo nome do escritor russo Ivan Turguêniev), etc.

Dono de ideias fortes e uma voz inconfundível “Renato, o Russo”, (nome do livro da escritora Julliany Mucury), influenciou gerações e nomes como Toni Platão, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Renato Rocha e despertou a “inveja criativa” do “Exagerado” Cazuza – “Esse cara é melhor que eu. Que loucura, ele tá fazendo uma coisa que eu quero fazer” – que compôs a música “Brasil” depois que escutou “Que país é esse?”.

De adolescente punk, criador da banda “Aborto Elétrico”, Trovador Solitário a vocalista do Legião Urbana, Renato Russo compôs 154 músicas, gravou 309 e foi regravado por 757 artistas que acreditavam na potência de sua voz, neste “mundo caduco” em que “faltam-se falas” para expor abertamente os problemas políticos e existenciais para além da geração Coca-Cola, a “geração z”.

Renato Russo foi um desses poetas-músicos (dúvida desfeita) capaz de refletir as inquietações de sua e de gerações posteriores num curto espaço de tempo: 11 anos de carreira fonográfica. O Rio de Janeiro que o viu nascer foi o mesmo que o viu morrer: Renato partiu para cantar em outras paragens na madrugada no dia 11 de outubro de 1996 com apenas 36 anos de idade deixando um último trabalho (em vida) – “A Tempestade (Ou o Livro Dos Dias)” e um “canto radioso” capaz de arrancar de gerações “seu mais secreto espinho” (Poema Legado).

 

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