• 9 de maio, 2024 21:57

Os vendilhões do culto. Por Marcos Leonel

ByDudu Correia

mar 25, 2022

Por Marcos Leonel

Professor e músico

Na coluna Fala Leonel no jornal Leia Sempre

Já previam os arautos históricos que os falsos profetas eram habilidosos ilusionistas. Depois de falarem a língua dos demônios e assinarem acordos de bastidores, em contratos milionários, para que eles fossem expulsos de corpos venais durante espetáculos televisivos, agora a trupe de espertalhões consegue subverter o milagre dos peixes, transubstanciando a bíblia em milhares de cofres. No entanto, alguns garantem que o gabinete paralelo de bispos e pastores no Ministério da Educação é apenas um punhado de versículos de um livro apócrifo de Judas e que não vem ao caso o tráfico de influências, a gerência clandestina do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, muito menos mais um crime de responsabilidade do presidente, pois se tratam, apenas, de instrumentos de fé.

No último dia 08 de março de 2022, ou seja, ano de eleições, Silas Malafaia, o pastor com a pecha de mala no próprio nome de batismo, organizou um ato de campanha antecipada no Palácio da Alvorada, ele conseguiu reunir 280 bispos e pastores de várias igrejas derivativas, numa demonstração de poder e tramoia. Foi nessa ocasião que Bolsonaro, aos prantos, prometeu aos pentecostais conduzir o Brasil para onde eles quisessem, agradecendo ao “Senhor” o fato dele, Bolsonaro, ter sido “escolhido” para essa “missão”. Bolsonaro nunca verteu uma única lágrima por nenhuma das 657 mil vítimas fatais da pandemia, mas nesse dia ele chorou copiosamente, emocionado por estar entre pessoas tão “próximas” de “Deus”. Nesse ínterim, esse deus apregoado já havia descansado ao sétimo dia, pois o universo paralelo das administrações clandestinas já fora arquitetado e posto em prática.

As notícias da mídia corporativa golpista dão conta de que esse gabinete paralelo já administrava o FDNE desde 2021, bem como controlava a agenda do pastor Milton Ribeiro, que ocupa o cargo de ministro da educação, privilegiando encontros com aliados e protegidos de Arthur Lira, de Ciro Nogueira e do próprio presidente. Simplesmente o presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, Gilmar Silva dos Santos, e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da mesma entidade, são os guardiões do grande templo dessa chefatura. Se for prefeito ou prefeita pertencente ao tecido social do Centrão, peça com fé, peça com comprometida fé, que você recebe seu empenho, que costumeiramente leva uma eternidade para ser pago, em questão de 30 dias, no máximo. Mesmo que se trate de muitos milhões, pois essa é a “vontade” divina, pois essa é a direção “revelada” pelos pastores e bispos, para que a “missão” de Bolsonaro possa ser cumprida e comprida. É nesse universo paralelo que o Brasil está sendo jogado nas mãos dos pentecostais exorcistas. Entra, Satanás.

Nada abala a fé daqueles que se apossam do bem público, com a confiança de que existe um deus que aprova as linhas tortas da picaretagem, do estelionato político. As orações amarraram as forças de Augusto Aras, transformado em três macaquinhos que nada escutam, que nada veem, que nada dizem, que apenas exercem o nada. Por força das orações, o Ministério Público foi amarrado, está completamente ocupado em manter a política de preços da Petrobras, alegando ao TCU que é inconstitucional impedir o aumento do preço dos combustíveis e gás de cozinha. A população brasileira está entregue ao sobejo da água de Pilatos, que baldeou a bacia com suas mãos imundas. Nada virá do Supremo Tribunal Eleitoral. Nada virá do Supremo Tribunal Federal. Só virá a notícia de que nada acontecerá. Para os brasileiros e brasileiras que tiveram o seu país tomado de assalto para ser dado de bíblias beijadas aos pastores e bispos neopentecostais, restam as infovias e a mídia progressista, lugares de fala das famosas notas de repúdio, das postagens espertas e do didatismo inócuo dos filósofos virtuais. Restam os becos judiciais, palcos das representações, dos prazos imediatos para explicações, e das investigações que suspiram diante do fortalecimento da impunidade.

Antes de ser ministro da educação, o pastor Milton Ribeiro já era famoso por suas falas desprovidas de senso mínimo. Seu conservadorismo primitivista sempre foi bem mais seboso do que negacionista. Entre outras pérolas jogadas ao gado, o pastor já defendeu que criança deveria sentir a dor do castigo físico: “Não dá para argumentar de igual para igual com criança, senão ela deixa de ser criança. Deve haver rigor, severidade. Vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir dor”, em seu famigerado vídeo educacional “A vara da disciplina”. Mas o áudio que entrou para a história da patifaria política brasileira foi outro. No áudio vazado pela Folha de São Paulo, o ministro da educação que educa crianças na pancadaria, na surra, diz que: “A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. […] Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”. Essa é a estratégia milagrosa para combater a corrupção: serviço direto ao consumidor, sem possibilidades de a propina cair em mãos erradas. Uma comitiva temente a Deus e defensora da família tradicional, vai lá, na sua prefeitura, e realiza o culto do dinheiro do povo. Aleluia, irmão!!

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