• 8 de maio, 2024 22:18

Penso, logo leio e escrevo. Por Luciana Bessa

ByTarso Araújo

jan 14, 2022

NORDESTINADOS A LER

LUCIANA BESSA

 PENSO, LOGO LEIO E ESCREVO!

Ler e Escrever nunca foram para mim uma opção, mas uma necessidade. Aos 15 anos, eu estava perdida em mim mesma e não fazia ideia de como (nem queria) sair de dentro do meu “eu”. Com o tempo, descobri que eram “eus”.

Na impossibilidade de conviver harmonicamente com o mundo exterior, levei para meu universo a leitura e a escrita. A princípio, me identifiquei com os poetas da 2ª Geração do Romantismo. Casimiro de Abreu (1839-1860) disse que “O mundo” [é] um sonho dourado, / A vida – um hino de amor” (Meus oito anos) e eu acreditei. Com Álvares de Azevedo (1831- 1852) descobri a frase (verso) que eu desejaria que estivesse escrita em minha lápide: “Foi poeta – sonhou – e amou na vida” (Lembrança de morrer). Fagundes Varela (1841-1875) me fez querer ter uma alma pura como o sorriso de uma criança “alheia ao mundo,/ alheia aos preconceitos,/ rica de crenças,/ rica de esperança” (Estâncias)

Vocês devem imaginar o quão angustiante é para mim acreditar, não nas metades da laranja, mas nos amores de alma, em uma sociedade que cancelar o outro é uma norma; a (não) criação de vínculos, uma qualidade; ter certeza é a única certeza que não podemos ter, ou seja, viver em tempos líquidos em que “Nada é feito para durar”, como afirmou Zygmunt Bauman.

Nem mesmo Manuel Bandeira (1886-1968), criador de um país imaginário chamado Pasárgada (em que terá “tudo”. Lá será amigo do rei, terá a mulher que desejar, na cama que escolher), acredita no encontro de espíritos, como atestam seus versos em “Arte de Amar”:

(…)

As almas são incomunicáveis

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, as almas não.

Sem o respaldo de um dos maiores poetas de todos os tempos, restou-me escrever (não só como forma de enlouquecer) para compreender os meus “eus” e os “outros” e tal, como Clarice Lispector (1920-1977), coser para dentro.

Aos 15 anos de idade, imbuída de mim mesma, comecei a escrever “diários” – um hábito que continuo até hoje, já que o ato de viver e o ato de escrever estão intimamente imbricados. Eu não tenho a mínima pretensão (é preciso esclarecer) que meus apontamentos sirvam para entender o tempo e os homens presentes, assim como os registros de Lord Byron (1788- 1824), Anne Frank (1929-1945), Virginia Woolf (1882-1941), Carl Gustav Jung (1875-1961), Franz Kafka (1883-1924). Assim como muitas cartas trocadas entre Jane Austen (1775-1817) e sua irmã Cassandra foram queimadas, desejo que as ilusões, as mágoas, os encontros e desencontrados regados a café (e registrados) sejam destruídos.

Acredito na escrita como um ato de autoconhecimento, de libertação de determinadas amarras, de desnudação, de exposição (como agora o faço).  Quando escrevo tomo contato com quem sou, vislumbro quem gostaria de ser e me posiciono sobre as mazelas desse “mundo caduco”, como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que me contaminou com seu gauchismo e me incentivou a lutar com as palavras, mesmo sendo uma “luta inglória” (O Lutador).

Mas nem sempre foi assim. Destinadas ao casamento e à reprodução, as mulheres ficaram encarceradas em uma torre de marfim (ambiente doméstico) e, por isso, não tiveram acesso ao papel, à caneta, ou ainda, à educação formal, logo, suas vozes não foram escutadas.

Coube aos homens, apropriados das palavras, assumirem a função de demiurgo das narrativas históricas e literárias de que temos conhecimento. Portanto, a ideologia dominante ao longo dos séculos foi a masculina. Nelas, as mulheres, quando aparecem, são retratadas como seres frágeis e ingênuas.

Pensando em tudo isso, no ano de 2020 resolvi criar o Nordestinados a Ler: Blog Literário <https://nordestinadosaler.com.br/>, uma ferramenta dialógica e interativa, cadastrada na Pró-reitoria de Cultura (PROCULT) da Universidade Federal do Cariri (UFCA), que tem a missão de discutir a Literatura produzida na região Nordeste  com foco na autoria feminina.

Para além disso, uma vez por mês, último sábado, reunimo-nos via plataforma Google Meeting e discutimos uma obra literária: Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis; A Casa (1999), de Natércia Campos; O Quinze (1930), de Rachel de Queiroz; Os venenos de Lucrécia (1978), de Sônia Coutinho, para lembrar algumas. Em 2022, reiniciaremos nossas “Discussões Literárias” no mês de maio. Desde já, reforço o convite para que possamos dar visibilidade a essas mulheres por meio da leitura, da reflexão e do debate.  Não fosse o suficiente, todo sábado, de 17:00h às 17:30h, temos um programa na Rádio Cafundó <https://www.radios.com.br/aovivo/radio-cafundo/179244>, para celebrar um escritor/escritora da Literatura Brasileira focando, claro, o Nordeste.

E a partir de hoje, dia 14 de janeiro, o Nordestinados a Ler ficará com a página 4 do “Jornal Leia Sempre”. Nosso encontro semanal será preenchido por textos sobre escritores/ escritoras e suas respectivas obras e, quando possível, a relação com outras artes (música, cinema, pintura) que nos possibilitam a emoção, a identificação e a reflexão. Vida longa à parceria entre o “Jornal Leia Sempre” e o “Blog Literário Nordestinados a Ler”.

Nordestinados a Ler é uma coluna semanal assinada por  Luciana Bessa  e publicada toda sexta-feira na edição do jornal Leia Sempre. 

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