• 9 de maio, 2024 00:00

Os caminhoneiros e a carga do golpe. Por Marcos Leonel

ByTarso Araújo

set 10, 2021 #Brasil

Foto: Fabiano Correia, NSC TV

Texto de Marcos Leonel

Publicado no jornal Leia Sempre

A invenção do Brasil é mais do que espetacular, é espetaculosa. Depois da exibição do fantástico mundo de Bolsonaro no dia 7 de setembro, o Brasil se torna palco de um desfile continuado de bizarrices da mais estranha estupidez em operação no país. O muito da incapacidade administrativa do governo Bolsonaro é pouco para ilustrar as trapalhadas homéricas da série de humor canalha protagonizada pela  elite que habita a república de bananas: “O golpe é nossa herança”.

O último capítulo da nova temporada tem como cena da vez uma paralização de uma grande facção de caminhoneiros, que era para ser a favor de Bolsonaro e que agora virou contra, que era para ser um movimento de extrema direita e que agora virou o sonho da extrema esquerda, que era para ser uma estratégia “esperta” de apoio de classe e agora é uma carga extremamente perigosa para eles, Bolsonaro e bolsonaristas, que articularam essa piada pronta. Parece confuso e é confuso mesmo, com a marca inconfundível da grife Clã Bolsonaro.

Um plano articulado por espécimes como Zé Trovão, Sérgio Reis, Amado Batista, Antônio Galvan e os filhos numerados, não poderia dar certo nunca, como não tem dado. A ideia era mostrar poder e articulação para pressionar e fechar o Supremo Tribunal Federal e o Supremo Tribunal Eleitoral, por motivações totalmente desconectadas da realidade administrativa do país, que está afundado na lama da maior crise econômica, social e moral após a constituição cidadã de 88. A mobilização dessa classe empregada nos caminhões do agronegócio parecia ser uma cartada de mestre.

No entanto, dificilmente uma pessoa normal acreditaria que caminhoneiros empregados de agricultores milionários tivessem o poder de fechar o STF e STE. Da mesma forma que seria impossível esconder das pessoas alfabetizadas que a manifestação a favor de um golpe pessoal de Bolsonaro e fora da pauta de combate às diversas crises brasileiras, fosse uma atitude espontânea, que não fosse uma militância paga com o dinheiro público, que não fosse fruto do derramamento de milhões de reais para confeccionar cartazes, camisetas, bonés, protetor solar, casa, comida e roupa lavada. O plano seguiu e o golpe não veio.

Acontece que ninguém avisou aos caminhoneiros, que estavam dispersos ao lado dos seus bólidos, ouvindo sertanejo, bebendo cachaça e comemorando a queda da bastilha. Não houve golpe. A notícia foi tardia, mas a fidelidade bovina e a dependência empregatícia, não. Eles se mantiveram fiéis ao “movimento”, tais quais suas antenas de rádio amador, balançando ao sabor dos buracos e sem controle nenhum dos próprios destinos. Eles partiram para o plano B, fazer a revolução reversa. Eles estão protagonizando ações que nem a esquerda inteira conseguiu: mobilizar uma classe para paralisar o Brasil em protesto e chamar a atenção para o desastre bolsonarista.

Mas a pauta deles não é o preço exorbitante dos combustíveis, a queda do preço do frete, o aumento constante de peças e pneus, nem o preço do arroz e do feijão, muito menos a desvalorização dos salários e a perda dos direitos trabalhistas, nem tão pouco a impossibilidade de se aposentar aos 60 anos de idade. A pauta deles é fechar o STF e o STE. A greve deles agrava a crise dele, que pariu essa viagem bizarra ao mundo da escatologia. Esse é um programa inadequado para quem tem inteligência mínima.

 

 

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