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Manuel Bandeira: um lírico moderno. Por Luciana Bessa

ByTarso Araújo

set 3, 2021 #Cariri

Luciana Bessa

Coordenadora da Roda de Poesia no Gesso do Coletivo Camaradas e idealizadora do Blog Nordestinados a Ler

O poeta gauche Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) declarou que “Há vinte e dois anos” conhecia e praticava Manuel Bandeira e nunca havia se arrependido de tê-lo procurado. Eu também não. E desconheço quem o tenha.

Manuel Bandeira (1886-1986) escreveu versos “como quem chora / De desalento… de desencanto…”. Na adolescência descobriu uma tuberculose e a possibilidade de que a morte cedo pudesse visitá-lo, por isso vivia amargurado. Perdeu o pai, a mãe e a irmã e quando percebeu que sua escrita tocava o outro, sentiu-se em paz quanto ao seu destino, mas antes de ele se concretizar publicou vinte obras: dez em poesia e dez em prosa. Sensível, forte e pulsional. Assim é o poeta pernambucano nascido em 19 de abril de 1886.

 Estreia na literatura, em 1917, com a obra “A Cinza das Horas”, de cunho simbolista, em uma edição de 200 exemplares custeado pelo próprio autor. Seu segundo livro, Carnaval (1919), possuía o soneto “Sapos” (“Urra o sapo-boi: / – Meu pai foi rei!-  / Foi! – Não foi! – Foi! – Não foi!), uma sátira ao Parnasianismo, lido na abertura da Semana de Arte Moderna (1922), por Ronald de Carvalho, foi vaiado pelo público.

Adepto do verso livre e da linguagem coloquial, seus temas mais comuns são o cotidiano, a melancolia, a infância, a morte e o amor à terra natal, motivo pelo qual fez uma “Evocação ao Recife”, mas não se trata do Recife comparado à “Veneza americana”, “Não o Recife dos Mascates”, mas o Recife da “minha [sua] infância”, aquela que o viu crescer.

Em 1954, o poeta se volta ao passado em “Itinerário de Parságada”, cujo único defeito, segundo Murilo Mendes (1901-1975) era “ser muito curto”, para buscar tal como Marcel Proust (1871-1922) seu “tempo perdido” e nos apresentar aqueles que povoaram seu universo infantil: Rosa, Tomásia e Totônio Rodrigues.

Via de regra, a poesia bandeiriana é trabalhada pelo viés biográfico e pouco se leva em consideração o seu aspecto político-social, como nos poemas “Irene no céu” , “Trem de ferro” e “Meninos cavoeiros”. O engajamento de Bandeira se manifesta através da ironia, da paródia, do poema-blague, como na alternância dos gêneros narrativos e descritivos.  O envolvimento no âmbito político-social tem como princípio evitar a alienação humana. Para isso, Bandeira se apropria da linguagem popular e oral e, dessa forma, consegue se aproximar e se fazer entendido pelo leitor.

Bandeira, para quem “a poesia é feita de pequeninos nadas”, foi um dos mais emblemáticos poetas líricos do século XX, que muito ainda tem a nos dizer.

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