• 4 de maio, 2024 06:27

Servidores ambientais foram os mais atacados e policiais os mais elogiados por Bolsonaro durante seu mandato

ByTarso Araújo

abr 24, 2024

Isso é o que mostra o estudo “Ataques e Acenos a Servidores Públicos e Burocratas Durante o Governo Bolsonaro (2019 – 2022)”, realizado por pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e divulgado pela Agência Bori nesta quarta-feira (24).

De acordo com a pesquisa, que analisou 19.802 falas e conteúdos de Bolsonaro entre 2019 e 2022 feitas no X (antigo Twitter), sendo 521 em que o ex-presidente mencionou servidores públicos e burocratas,os trabalhadores da área ambiental não receberam uma única menção positiva do ex-presidente ao longo do mandato. Ao contrário disso, os profissionais se caracterizaram pelo grupo mais atacado, recebendo 28% dos ataques direcionados.

Para Ergon Cugler, coordenador do estudo e pesquisador na FGV EAESP, os dados comparados entre acenos a policiais e ataques aos servidores ambientais apenas evidenciam a política adotada por Bolsonaro. “Podemos pressupor que existem nichos com os quais o ex-presidente dialoga, então quando ele acena para policiais, ele está dialogando com a sua base eleitoral, que defende aquela categoria profissional também”, diz. “O mesmo acontece quando ele critica trabalhadores da pauta do meio ambiente”, completa o pesquisador.

A pesquisadora Gabriela Lotta, também autora do estudo e professora da FGV EAESP, afirma que os acenos a policiais contribuem para legitimar práticas como o uso abusivo da violência pela categoria.

Servidores do Judiciário 

Outro grupo atacado por Bolsonaro e que não recebeu nenhum aceno positivo foi o dos servidores do Judicionário. Em seus ataques, o ex-presidente utilizou como principal discurso a crítica às urnas eletrônicas e a uma suposta fraude eleitoral. “Ao criticar e atacar a credibilidade das urnas, o presidente dá espaço para que a parcela da sociedade que não quer aceitar os resultados das eleições se volte contra o governante eleito”, diz Lotta.

Em 8 de janeiro de 2023, após as eleições presidenciais, pudemos perceber os efeitos dos ataques de Bolsonaro ao judiciário. Os atos golpistas que destruíram as sedes dos Três Poderes e ameaçaram a democracia tiveram como combustível as falas do ex-presidente e outros políticos de extrema direita contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instituições.

A dinâmica dos ataques de Bolsonaro

O estudo ressalta que Bolsonaro equilibrou ataques e acenos para diferentes categorias de servidores públicos e burocratas ao longo dos quatro anos. “Por exemplo, acusou médicos cubanos de financiar uma ditadura ao mesmo tempo em que elogiava a atuação da Polícia Federal em apreensões. Da mesma forma, questionou a idoneidade de servidores FUNAI e do IBAMA, ao mesmo tempo em que anunciou reajuste salarial para professores e expressou apoio à categoria”, afirma a pesquisa.

Para os pesquisadores, essa oscilação tem como objetivo “consolidar uma identidade social que une grupos excluídos numa luta colectiva contra inimigos comuns – que vão desde a elite à corrupção e ao status quo”.

Cugler também chama atenção para o fato de que servidores da saúde e professores foram atacados e acenados quase igualmente pelo ex-presidente. Para ele, isso faz parte da estratégia de comunicação com a base eleitoral. “No discurso de Bolsonaro, há os ‘bons servidores’ de saúde e os ‘maus’, assim como os professores”, explica o pesquisador.

Tais discursos influenciam a percepção sobre os servidores e os serviços públicos no cotidiano. “Os servidores públicos são a porta de entrada aos serviços públicos, como acesso à saúde nos hospitais, e não são poucos os relatos de agressão verbal e até física de cidadãos a estes trabalhadores”, acrescenta Cugler.

Lotta também diz que as falas de Bolsonaro reforçam uma narrativa de ‘nós contra eles’, que é a base do populismo. “Isso abala a credibilidade, a imagem e mesmo o moral destes servidores, além de colocá-los como inimigos a serem combatidos”, aponta a pesquisadora.

Cugler complementa defendendo que um governante não deveria comprar briga contra servidores públicos, pois isso dificulta a implementação de políticas públicas e o acesso da população aos serviços.

Por fim, os pesquisadores afirmaram que, a partir dos resultados do levantamento, pretendem analisar os efeitos de discursos de ataque e acenos sobre a atuação dos servidores públicos.

Metodologia

O estudo da FGV utilizou três bases de dados contendo falas de Bolsonaro, sendo: todos os tweets publicados pelo perfil de Bolsonaro, por meio do registro levantado por “@desbloqueandojb”, a lista de falas total ou parcialmente falsas de Bolsonaro mapeadas pela Agência de Checagem “Aos Fatos”; e todas as publicações presentes no perfil oficial do Telegram do então presidente, “@jairbolsonarobrasil”.

Fonte: Agência Bori

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