• 11 de maio, 2024 20:51

Adeus, camarada Raquel! Por Eudes Baima

ByDudu Correia

mar 4, 2022

Por Eudes Baima/Professor

Corriam os últimos anos da Ditadura Militar. O movimento operário, a juventude estudantil, as organizações populares finalmente davam carne, sangue e ossos ao sentimento de repulsa ao regime criminoso dos generais. Foi o movimento que deu os fundamentos para o surgimento do PT, da CUT, do MST, para a reconstrução da UNE e para a organização das entidades do movimento popular.

Toda uma geração de jovens foi lancadoa à luta política, ainda na semiclandestinidade, nesta época, amparada nos ombros dos combatentes que lhe antecederam.

Com 18 anos, mergulhei na luta estudantil nos quadros da Organização Socialista Internacionalista (OSI), hoje Corrente O Trabalho.

Éramos um punhado de estudantes e professores, reunidos numa única célula, ganhos para a perspectiva da IV Internacional e da revolução proletária. Mas nos fazia falta uma referência mais experiente, vinda de outros períodos de luta.

Um dia, numa reunião de célula, o secretário da mesma anunciou que iriamos receber uma camarada experiente, advinda ainda da época da Fração Bolchevique Trotskistas (FBT), grupo que esteve na origem de O Trabalho (e do qual muitos companheiros seguem vivos e ativos), que daria o que hoje chamaríamos de um up grade na organização. Tinha saído do Ceará para fazer mestrado na UFRRJ, onde tinha sido recrutada para a OSI e agora voltava.

Foram várias semanas de expectativa pela chegada da misteriosa Camarada Raquel. Por razões que não lembro mais, a camarada Raquel demorou a se incorporar à organização em Fortaleza e virou personagem de mil fantasias dos jovens militantes.

Finalmente a camarada Raquel apareceu. Experiente, jeitosa, dura a sua maneira, passou uma década militando nos quadros da OSI/O Trabalho, se tornando uma das mais destacadas construtoras do PT em nosso estado, bem como da CUT, em cuja origem também esteve como dirigente da Associação Profissional dos Sociólogos.

Nesta década, mais do que camaradas, nos tornamos amigos. Reuniões, atos, campanhas e greves se combinaram com cafés, jantares, visitas, longas conversas sobre todos os assuntos.

As vicissitudes da luta política nos separaram. Provavelmente tivemos, em algum ponto, raiva um do outro, como é de lei. Mas nunca deixamos de ser amigos. Com encontros mais esparsos, mas amigos, e com um círculo de outros amigos e amigas em comum entre os quais, sem esquecer ninguém, destaco a querida Eugênia Cruz.

A pandemia nos afastou mais, embora tenhamos trocado um par de telefonemas neste período.

A última vez que estive com minha camarada Raquel foi no ano novo de 2020, ano que vimos entrar juntos exatamente na casa de Eugênia.

Não estava pronto para morte dela. Nunca estamos, né? Uma saudade danada bateu agora. Vai ser duro seguir sabendo que a camarada Raquel se foi.

Camarada Raquel, querida Zélia Franklin, presente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *