• 20 de maio, 2024 04:14

O cancelamento virtual é uma pratica excludente. Por Íris Tavares

ByTarso Araújo

jan 28, 2022

Coluna O Verbo Feminino

Por Íris Tavares

Os humanos são seres sociais e por necessidade desenvolvem relações no âmbito familiar, escolar, na comunidade que habita, no ambiente de trabalho. Nos últimos tempos o ambiente virtual superou obstáculos com a existência de mídias de relacionamento excedendo a limitação da relação presencial. A distância deixou de ser um fator imperativo. Todavia nos perguntamos, até que ponto os meios de comunicação interferem no desenvolvimento humano? Podemos considerar que o advento da internet elevou a comunicação do patamar social para a esfera da informação e do conhecimento. Passou a ser algo essencial.

Alguns estudiosos apontam para a busca constante dos usuários nas redes sociais ao mesmo tempo que observam a quantidade expressiva de acessos. Nos revelam que, para além de manter contatos, passou a ser fonte de informação, publicidade, oportunidade e também lazer. Comunicar sempre foi algo necessário na história da humanidade. A criação das mídias sociais fez com que essa comunicação passasse a ser mais democrática e interativa. As redes sociais permitem uma maior interatividade entre povos distintos, encurtam a distância entre pessoas, facilitando o intercâmbio cultural. Navegar na internet significa trilhar caminhos para se alcançar o meio mais democrático de comunicação, pois permite que usuários com culturas e conceitos diferentes expressem o que pensam sobre diversos assuntos. Isso tem levado as pessoas a utilizarem as redes sociais para atingir diversos objetivos.

Por outro lado, o ambiente virtual é essa pista escorregadia por onde desfilam distintos perfis, boa parte deles se dispõem a alimentar o conteúdo sombrio das redes sociais como, por exemplo, as chamadas fake news. São notícias inventadas e manipuladas para viralizar na rede mundial de computadores, com verniz jornalístico, pretendem atrair a atenção do público, agregado ao benefício financeiro advindo dos cliques e visitas na página.

De forma contundente o perfil virtual pode ser um alvo fácil na guerrilha midiática das redes sociais. Figuras do mundo da política, personalidades artísticas e as pessoas famosas, em maioria, são os escolhidos no cancelamento virtual, que é uma forma de exclusão de uma pessoa, um grupo ou marca em posição de poder e influência, logo depois de terem atitudes consideradas problemáticas ou erradas. Segundo afirmação de Elis Monteiro, especialista em marketing digital é “Um movimento coordenado na maioria das vezes por pessoas que estão na internet e se reúnem para odiar alguém junto, ou seja, eles decidem que pessoa não merece existir no mundo digital”. É um linchamento perverso e irreversível, pois não há margem para se exercitar o direito ao contraditório. A velocidade com que se propaga o evento anula qualquer possibilidade de se reverter o dano e o ataque moral desferido contra o perfil de determinado usuário.

O que de fato está por traz dessa pratica? Além do fato de que ela se anuncia como uma versão espelhada na frágil condição humana que se alimenta do prazer de humilhar, excluir e desconstruir a história e a vida pessoal de seus semelhantes. Seria esse cenário o refúgio da covardia, da disseminação de interesses corporativos, de agrupamentos que seguem as tendências marginais em troca de dominar e controlar o ambiente virtual. Felipe Campelo atual coordenador do Núcleo de Estudos em ética e Política da Universidade Federal de Pernambuco, ponderou que “O cancelamento é uma lógica que não perdoa. Ela não quer educar. As vezes uma coisa que você falou há muito tempo e que foi encontrado, resgatado nas redes, aquilo ali parece que diz quem é essa pessoa hoje. Joga fora essa possibilidade de que temos de mudar”.

Uma corte instalada com seus juízes e acusadores para formar opinião e emitir julgamentos sobre o comportamento e as atitudes desses usuários selecionados. Um ambiente onde a ética e o respeito são palavras sem sentido e que não se aplicam em hipótese nenhuma.

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