• 20 de maio, 2024 05:01

Uma política pública de crimes. Por Marcos Leonel

ByTarso Araújo

jan 28, 2022

Coluna Fala Leonel

Por Marcos Leonel

Em 2018 Bolsonaro afirmou que os dirigentes do Centrão eram “a alta nata de tudo o que não presta no Brasil”. Como um miliciano exterminador ele levantava a bandeira da honestidade e do combate à política velha do “toma lá, dá cá”, praticada por “esse câncer da política brasileira”. Assim corroborou Olavo de Carvalho, o fisólofo da mediocridade: “Você pode chamá-lo de burro, de mau administrador, mas de ladrão você não vai conseguir”. Comemorando a eleição de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, o cantor do fracasso, cantarolou: “e se gritar Centrão, não fica um meu irmão”. Em 2021, após comprar o Centrão para se manter no poder, Bolsonaro, o farsante, diz que: “Eu sempre fui do Centrão, eu nasci lá, quem votou em mim votou em um cara do Centrão”. Olavo de Carvalho morreu de Covid, general Heleno disse que o “bloco” do Centrão nunca existiu e Bolsonaro acabou confessando ser a alta nata do que não presta.

A vagabundagem pregressa de Bolsonaro inclui fetiches sexuais, expostos em sua linguagem chula, fetiches de violências totalitárias reveladas em seus ideais de golpe militar, bem como em fetiches de acumulação compulsiva de bandidos de estimação. Seus ídolos são da estirpe de Brilhante Ustra, torturador da Ditadura Militar; de Pinochet, ditador sanguinário do Chile e de qualquer integrante de qualquer esquadrão da morte. As amizades de Bolsonaro e do clã em governo são singulares e pontuais, não só na padronagem esquisita, como também na tipologia estranha. Adriano da Nóbrega, miliciano morto pela polícia da Bahia, era amigo íntimo da família Bolsonaro, sendo condecorado por Flávio Bolsonaro, a pedido do pai. Por via das dúvidas, a ala de capachos que admiram o ex-capitão, segue a mesma linhagem de opulência marginal. Roberto Jefferson (PTB), Wilson Witzel (PSC), Marcelo Crivella (Republicanos), Eduardo Cunha (MDB), Valdemar da Costa Neto (PL), atual presidente do partido de Bolsonaro (PL), entre outras personalidades do alheio, engrossam a lista de condenados por corrupção que andam de mãos dadas com Bolsonaro.

O líder do governo, Ricardo Barros (Progressistas), é um dos integrantes das forças ocultas do Centrão, acusados de falcatruas diversas. Ele foi empoderado pelo golpista Michel Temer, escritor da carta do pedido de perdão de Bolsonaro, que ainda está solto, também acusado de várias falcatruas. As últimas acusações de formação de quadrilha que pesam sobre os ombros largos de Ricardo Barros, foram feitas pela CPI do Genocídio. A justiça é muito generosa com essas personagens da sujeira pública brasileira quando o assunto é abertura de inquérito ou processo em julgado. Arrastar por tempo indeterminado é o preceito paralelo das instâncias jurídicas nesses casos de lesa pátria. Gilmar Mendes, ministro do STF suspendeu três ações que acusam Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, de improbidade administrativa, nome dado para disfarçar a ação de roubo do dinheiro público por corrupção. A liminar de Gilmar Mendes vale até o julgamento do mérito pelo Tribunal. O ministro chefe da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP) é investigado em três inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal. Em dois deles, o Ministério Público Federal já ofereceu denúncia, mas ainda não foram aceitas pela Corte.

Dentro do PL, partido atual de Bolsonaro, a coisa fica muito pegajosa em se tratando de honestidade, até mesmo a honestidade meia-boca, produto que leva o selo de qualidade da política brasileira, não como um todo, mas um contingente que é boa parte. De acordo com matéria do jornal “O Estadão”, dos 27 dirigentes estaduais do PL, 18 foram investigados, são investigados ou já foram condenados. Incluindo o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, preso em 2012 e condenado a 7 anos e 10 meses de prisão. Em 2014 o presidente do PL foi beneficiado pela parcimônia judicial do Supremo Tribunal Federal, com o ministro Luís Barroso autorizando o cumprimento da pena em prisão domiciliar, sendo que hoje ele transita livremente pelos bastidores da política brasileira, como um figurão do Centrão que alugou uma legenda para Bolsonaro chamar de sua. Quando Bolsonaro justificou a indicação de Ciro Nogueira para a Casa Civil, ele disse que nasceu no Centrão, mas não fez nenhum comentário sobre a estrutura criminal do partido que ele ingressou, mesmo porque essa farinhada toda não consegue se esconder facilmente, devido à sua robustez caroçuda.

Em delírios empacotados à vácuo, Ciro Nogueira (PP), confessou que houve troca de cargos por apoio, em recente entrevista ao jornal O Globo, mídia que sempre abre os braços para a corrupção. “É lógico que houve uma aproximação, e o presidente passou a escolher técnicos do meu partido. Quando cheguei à Casa Civil, vim só com a minha chefe de gabinete”, disse assim um dos chefões do Centrão, acrescentando que: “Tivemos um presidente que enfrentou a maior pandemia da nossa história sem termos um país saques, violência e dando suporte a população, que foi capaz de dar 13 anos de Bolsa Família em Auxílio Emergencial para população sem quebrar o país”. Sendo que essa mesma figura que delira com o poder nos bolsos, é o mesmo que chamou Bolsonaro de fascista e preconceituoso em 2017. É o mesmo que tem a chave do cofre em 2022. É o mesmo que tem acesso a R$ 149,6 bilhões em recursos, juntamente com outras figuras do Centrão, alocados em mais de 32 cargos de confiança, em 2022, ano de eleições. É o mesmo que trabalhou para a aprovação do orçamento, com R$ 14,9 bilhões para o orçamento secreto e mais R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral. Essa é a alta desenvoltura da alta nata.

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