• 19 de maio, 2024 18:37

O abandono da RFFSA atravessa décadas. Por Íris Tavares

ByTarso Araújo

jan 14, 2022

O VERBO FEMININO

ÍRIS TAVARES

O ABANDONO DA RFFSA ATRAVESSA DÉCADAS

Nos primeiros dias de janeiro de 2022 revisitamos a RFFSA de Juazeiro do Norte, local que o Padre Cicero identificava como o centro urbano. Ele conseguia vislumbrar a amplitude e o potencial de crescimento daquela urbe. Segundo fonte de pesquisa traz dados reveladores sobre o fato de Lampião ter marcado presença em Juazeiro na primeira semana de abril do ano de 1926. O paladino do Nordeste brasileiro viera para receber sua patente de capitão, mesmo considerando que o malfadado plano de Floro Bartolomeu fora abortado.

Envolvia o bando de Lampião numa emboscada a Coluna Prestes, que na sua caminhada histórica adentrava às caatingas rumo ao vale do Cariri. Naqueles dias o rei do cangaço ostentava o seu novo título de capitão mantendo suas mãos limpas do sangue do movimento tenentista liderado pelo militar comunista Luís Carlos Prestes. Consta que no mesmo ano, em 8 de novembro, Juazeiro despontava para uma nova fase de desenvolvimento com a chegada do primeiro trem da RVC, um importante vetor no seu atual progresso cultural e material. O Padre Cícero foi uma presença marcante em todo o processo que culminou com a implantação daquele modal no epicentro do nordeste brasileiro. (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XVI, IBGE, 1959)

A Tipografia São Francisco – a Lira Nordestina –  foi criada em 1936, dez anos depois do advento da RFFSA. José Bernardo da Silva responsável pelo empreendimento realizou relevante aquisição dos acervos de clichês e dos direitos autorais para a publicação de folhetos de algumas tipografias dos principais estados produtores de cordel no Nordeste, entre eles, Paraíba e Pernambuco. Percorriam a rede ferroviária numa rica integração cultural e material que proporcionou a elevação da Tipografia São Francisco como a maior folhetaria do Nordeste brasileiro. A pequena gráfica artesanal ganhava status de uma pequena indústria.

Quem pesquisou sobre o sucateamento do transporte ferroviário? O resultado desse desmonte tem serias repercussões no cenário econômico e as condições do acesso a mobilidade ficaram cada vez mais impopulares.

O abandono da RFFSA demanda de algumas décadas. Em meados da década de 1990 um grupo de artistas e produtores da cultura ocuparam o prédio para instalação do Projeto Estação das Artes. Participantes da Associação dos Artistas e Amigos da Arte – AAMAR e de outros coletivos, que durante três anos e debaixo de muita pressão fizeram a gestão do equipamento. Uma experiência que unia os dois extremos da cidade. A periferia se misturava com primor as manifestações artísticas, oficinas de teatro, música, artes plásticas, feira de artesanato e intercâmbios. Aqui vale um parêntese para citar o nosso saudoso e querido Luís Karimai, um guerreiro, dentre outros que estiveram nessa construção. O peso e a brutalidade da ignorância dos plantonistas da politicagem reinante impossibilitou a continuidade do projeto Estação das Artes. O abandono continua. Ainda em 2019 a prefeitura de Juazeiro divulgou que havia retomado a posse da antiga estação da rede ferroviária com intuito de reformar o prédio para sediar o Centro de Cultura Daniel Walker. A previsão de conclusão da referida reforma foi anunciada para julho de 2020, entretanto a estação continua abandonada.

Defendemos a permanência do equipamento público devidamente equipado. É nosso museu vivo, nossa praça do encontro das manifestações culturais. O popular e o erudito num só corpo e espaço. Sem divisões. Não é justo que os nossos olhos se deparem com tanto abandono. É inadmissível que o local continua sendo um deposito de tralha e lixo da prefeitura de Juazeiro. Chega de pobreza e miséria na estação que recebe, acolhe e pode transformar realidades.

Trata-se de um patrimônio histórico e arquitetônico que tem muito para dizer sobre a história da cidade e da forma de como aquela população se organiza. É uma referência coletiva e comunitária que está para além do nosso tempo. A nossa identidade não pode e nem deve ser rifada por nenhum governo. A reivindicação por políticas culturais é justa e necessária. Atentemos!

A coluna O VERBO FEMININO é publicada toda sexta-feira no jornal Leia Sempre e assinada por Íris Tavares. 

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