• 9 de maio, 2024 09:08

7 pontos para entender o 7 de setembro

ByTarso Araújo

set 10, 2021 #Brasil

Por Roberto Santana

Militante das Brigadas Populares e professor

 1. Bolsonaro sem povo.A movimentação de massas planejada pelo bolsonarismo foi muito aquém do esperado. O presidente necessitava de um contingente muito maior de simpatizantes para promover a invasão do STF ou outro ato de força em Brasília que lhe daria a possibilidade de agir sobre os fatos e de deslocar atores relevantes (como policiais e militares), engajando-os a embarcarem em sua iniciativa golpista.

 

  1. Bolsonarismo em baixa. É improvável que Bolsonaro consiga mobilizar mais gente do que no dia 7. Convocada com tamanha antecedência e sob forte teor golpista, a turba bolsonarista, majoritariamente uma classe média lupen, sai decepecionada. Foram no intuito de “tomar Brasília” e nada aconteceu. Quando se anuncia tanto um objetivo com data e hora marcada e o mesmo não é entregue, o saldo é de decepção e desmobilização. O que se viu no 7 de setembro é o que já se constatava em todos os lugares, das pesquisas de intenção de votos à fila do supermercado: o bolsonarismo enquanto fenômeno social está se desmanchando em rápida velocidade.

 

  1. Bolsonaro (sempre) dobrará a aposta.Com isso, Bolsonaro desistirá de um golpe? Não. Alguém consegue imaginar Bolsonaro sentado no Alvorada esperando as eleições de 2022, sem nada de bom para entregar à população e com uma rejeição que já passa dos 60%? A extrema-direita não joga dentro das “quatro linhas” da nossa carcomida constituição. A instabilidade e a exceção são suas armas, já que não há, da sua parte, qualquer compromisso com institucionalidades ou convenções constitucionais. Bolsonaro precisa se livrar de um ataque mal-sucedido criando um novo. Ainda perante seus apoiadores na Paulista – não tão cheia quanto precisavam – já lança o novo petardo: não reconhecerá decisões do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Perante a incapacidade do golpe de força do dia 7, partirá para o aprofundamento da crise entre os Poderes, visando um estado de anomia institucional que lhe faça convocar prerrogativas excepcionais e com isso forçar o golpe por outras vias. Se entrarmos em uma espiral de não reconhecimento das ações de um Poder pelo o outro, o fascismo tem aí uma possibilidade de instalar o caos que deseja para uma ação de força.

 

  1. E as armas?Obviamente não se dá um golpe sem armas. Bolsonaro necessita de pelo menos uma fração das forças militares e policiais que concordem em segui-lo no seu confronto com os demais Poderes, a imprensa e praticamente todo o país. Dos setores armados sempre se prometem apoios, que, no entanto, não se materializam. O tão esperado levante policial no dia 7 não deu as caras. Oficiais palacianos, mordidos por terem sido deixados como únicos responsáveis por 1964, já fizeram as contas de que sem apoio do governo norte-americano, do empresariado local e da grande mídia nenhum golpe se sustenta. E hoje Bolsonaro não possui nenhum dos três.

 

  1. A direita liberal tentará tomar a dianteira. A grande mídia, em especial a Globo, adotou um tom de galhofa em relação aos manifestantes e de ultimato contra o presidente, classificando suas falas e posicionamentos como antidemocráticos. Deu bastante ênfase também às reações institucionais e de partidos da direita liberal (chamada pelo eufemismo de “centro” ou “terceira via”). Sendo o verdadeiro partido da burguesia, a senha está dada: é necessário tirar Bolsonaro do jogo antes que ele derrube o tabuleiro, e com isso despolarizar o cenário eleitoral contra Lula, viabilizando um terceiro nome palatável ao mercado. O comedimento liberal com os arroubos autoritários de Bolsonaro está entregando o imaginário popular de mãos beijadas para o líder petista e uma crise econômica sem fim já começa a cobrar sua conta até mesmo entre os endinheirados. Até onde estará disposto a ir o mundo institucional e a sociedade civil liberal para reverter esse cenário?

 

  1. A esquerda precisa mobilizar e falar do que o povo sente.Sem condições de derrubar Bolsonaro até o momento, os atos convocados pela oposição de esquerda vêm diminuindo no volume de participantes, mas continuam necessários. Isso porque a conjuntura é volátil e um novo acontecimento pode irromper repentinamente e voltar a encher as ruas como nas manifestações do primeiro semestre. A rua é o terreno onde a esquerda tem poder de pautar o país e pressionar outros atores, do Congresso à grande imprensa, a se posicionarem a favor do impeachment. Uma ampla campanha de agitação e propaganda sobre os custos de vida (preços no supermercado, da gasolina, a queda na qualidade de alimentação) utilizando as redes sociais e os aplicativos de mensagem, junto à ridicularização dos atos do presidente, têm forte apelo popular e capacidade de construir uma ideia-força de que a única solução é o impeachment de Bolsonaro. São ferramentas necessárias para encurralar o fascismo e condicionar ou imobilizar determinados atores na conjuntura. As forças de esquerda sozinhas não possuem acúmulo para derrubarem Bolsonaro, mas podem sim, de acordo com suas ações, mexerem algumas peças que viabilizariam tal feito.

 

  1. Os dados ainda estão rolando.Bolsonaro mostrou mais fraqueza do que força no 7 de setembro, mas não possui outra alternativa a não ser aumentar a agressividade. Não possui hoje as condições materiais necessárias para o fechamento do regime, o que não quer dizer que não possa conseguir. Precisa forçar um evento catártico que lhe permita retomar o controle da agenda nacional e encaminhá-la para a ruptura total. Às forças democráticas só restam a única alternativa que sempre existiu: retirar da presidência o fascista, pois esperar que a institucionalidade o domestique é sonho ingênuo. A esquerda nunca partilhou dessa fantasia, mas a direita tradicional sim, se tornando avalista de toda a tragédia que vem sendo imposta ao nosso povo. Retirar Bolsonaro da cadeira presidencial é uma tarefa para ontem, antes que ele resolva tirar o mínimo de democracia que existe de toda a sociedade brasileira.

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