• 9 de maio, 2024 04:05

Marcelo Alves: “O serviço público no Brasil tem sido alvo de ataques por parte dos governos há vários anos”

ENTREVISTA: Marcelo Alves: “O serviço público no Brasil tem sido alvo de ataques por parte dos governos há vários anos”

Marcelo Alves é sindicalista, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Juazeiro do Norte e servidor concursado. Graduado em enfermagem assumiu a presidência do SISEMMJUN e junto com a diretoria vem imprimido um processo constante de lutas em defesa dos direitos dos servidores juazeirenses.  Sindicalista experiente avalia que o momento atual é para ir às ruas pelo Fora Bolsonaro. Acredita que o governo Bolsonaro é anti-povo e que as esquerdas precisam estar unidas em 2022.

Como você entrou na política?

Marcelo: Anos após o início de minha militância sindical, compreendi a importância de se estabelecer um olhar mais amplo sobre a sociedade. Neste sentido, recebi convite do Presidente do PSOL de Juazeiro do Norte em 2015 e, desde então, tenho contribuído mais enfaticamente com as lutas de nosso povo e da classe trabalhadora. Para mim é uma satisfação fazer parte do PSOL, um partido que representa minhas convicções para os vários aspectos da vida humana, desde as compreensões sobre o papel do estado, o universo do trabalho, a economia, a proteção do meio ambiente e as áreas sociais.

E como se deu sua entrada no movimento sindical?

 

Marcelo: Quando entrei no serviço público pensei que teria direitos assegurados em Lei efetivamente implementados. Doce ilusão!!! Logo em 2006, percebi a necessidade de aglutinar esforços com outros servidores do Setor Saúde, numa perspectiva coletiva, para organizar a luta acerca de demandas de interesses do pessoal de nível superior.  Inicialmente, constituímos uma Comissão Representativa que entendia a importância de se ocupar os espaçoS de poder e discussão. Aí não parei mais. Fui membro titular do Conselho Municipal de Saúde nos períodos de (2008 a 2012, 2014 a 2016 e de 2019 até hoje) delegado de base do SISEMJUN de 2009 a 2010, Vice-Presidente do SISEMJUN de 2011 a 2014 e Presidente do SISEMJUN de 2017 até hoje. Ao longo dos últimos 15 anos, sempre tive clareza de meu papel na organização dos servidores, contribuindo para o fortalecimento das lutas dos trabalhadores por melhorias econômicas e de vida. Orgulho-me muito de minha opção de lutar pelos interesses da classe da trabalhadora.

Qual a situação dos servidores de Juazeiro do Norte hoje?

Marcelo: O serviço público no Brasil tem sido alvo de ataques por parte dos Governos há vários anos, em especial desde o Golpe Presidencial de 2016. A precarização do serviço público, via arrocho salarial e péssimas condições de trabalho, são uma realidade. Aqui em Juazeiro do Norte não tem sido diferente. No entanto, em razão da luta dos servidores encabeçada pelo Sindicato, temos conquistado, em níveis diferenciados, reajustes salariais anuais e, pontualmente, avanços nas pautas específicas do Funcionalismo. Merece destaque, a conquista recente do Concurso Público, o qual já oportunizou a nomeação de mais de 1.000 novos servidores somente este ano de 2021. Mas, nem tudo são flores. Estamos na luta, pleiteando junto ao Governo, o atendimento da Pauta Emergencial composta por 13 reivindicações das Categorias.

A campanha salarial pode atingir seus objetivos? Como o sindicato pretende trabalhar essa questão?

Marcelo: A conjuntura do país na Pandemia do Novo Coronavírus torna o processo de luta por conquistas mais complexo. Mas sou sempre esperançoso. Acredito que com disposição e compromisso coletivo, os servidores podem avançar em conquistas. Quanto ao método, a América Latina, com base nas mobilizações recentes na Colômbia, Chile e Bolívia, tem revelado que as ruas continuam sendo o caminho para mudanças e conquistas associadas aos interesses do povo. É por este caminho, seguindo as recomendações sanitárias, que continuaremos a trilhar na busca de avanços para os servidores.

Como é a relação do Sisemjun hoje com o atual governo?

Marcelo: A relação do SISEMJUN com todo e qualquer Governo sempre foi institucional. Como representante legal e legítimo dos servidores municipais é papel do Sindicato empreender o diálogo com vistas à solução de conflitos nas relações de trabalho, operando conquistas para o funcionalismo. Neste sentido, mantemos um diálogo propositivo, franco e honesto, pautado na boa-fé, junto ao Governo. Dificuldades e divergências nas ações voltadas ao funcionalismo são esperadas. Mas esperamos que ao longo do ano, possamos avançar no diálogo propositivo e, consequentemente, na pauta do funcionalismo.

Atualmente como você analisa o movimento sindical no Ceará, no Cariri e no Brasil?

 

Marcelo: Com algumas exceções, as pessoas, os trabalhadores e suas representações não têm demonstrado a devida disposição para melhorar nosso Estado e nosso País. A apatia popular, no cenário de tragédia sanitária, ainda se impõe. Aqui no Cariri, na última década, destaca-se como indutor das lutas, para além do SISEMJUN, os Sindicatos dos Servidores do Crato e de Barbalha, a FETAMCE, a Intersindical e a CSP-Conlutas.

Quais as tarefas do movimento sindical para você na realidade do Brasil atual?

Marcelo: A tarefa é pedagógica. É preciso formação política para compreender o passado, o presente e o que está por vir. Temos que reeducar os trabalhadores para consciência de classe, explicitando as fragilidades dos últimos 20 anos, que contribuíram para as deformas trabalhista e previdenciária, teto de gastos públicos e terceirização. Avançando na agenda da organização e politização dos trabalhadores, um novo Brasil com menos desigualdade é possível.

Qual sua leitura do governo Bolsonaro?

Marcelo: O desgoverno Bolsonaro era uma tragédia anunciada. Mas não esperava que o Governo fascista, neoliberal e ultraconservador de contornos anti-povo, rejeitasse a vida e passasse a dialogar com a morte. Insistindo num tratamento precoce ineficaz, rejeitando as medidas sanitárias não farmacológicas e não comprando as vacinas em 2020, o Governo Bolsonaro passou a ser o maior responsável pelas mais de 500.000 mortes em nosso país. Não dá mais… É preciso derrubar este Governo anti-povo.

Qual sua opinião sobre o governo Camilo e Gledson?

Marcelo: O Governo Camilo segue a cartilha dos Ferreira Gomes, numa linha econômica neoliberal atrelada à austeridade fiscal, com concessões nas áreas sociais, em especial na saúde e educação. Já o Governo de centro-direita de Gledson Bezerra ainda é cedo para uma análise mais aprofundada. No entanto, para além do discurso de austeridade financeira, a qualidade do serviço público permanece questionável, com reclamações na coleta de lixo, com saúde pública precária e falta de servidores.

 Como você analisa a esquerda no Brasil hoje?

Marcelo: A esquerda precisa sair do discurso acadêmico e se aproximar das bases, retomando seu lugar, no coração e na mente, de nossa gente. Para tanto, é fundamental adequar a linguagem mediante estratégia de comunicação popular. Além disso, para ocupar espaço político, é necessário disponibilidade e compromisso, para a construção coletiva junto ao povo. A partir disso e aliado a uma praxis efetiva, o reconhecimento da esquerda seria algo natural.

Falando ainda da esquerda você e à favor de frente ampla ou frente de esquerda para   2022?

Marcelo: A unidade é fundamental nesta conjuntura de um governo central fascista, neoliberal, ultraconservador e anti-povo. Mas de que unidade estamos falando? Uns defendem misturar água e óleo. Proponho uma frente pautada em um programa de esquerda que aglutine todos aqueles que se forjaram nas lutas de nosso povo, dos pobres e da classe trabalhadora.

 

Você é do PSol defende alianças com quais partidos para 2022?

Marcelo: Defendo taticamente, para 2022, aliança programática no campo da esquerda. Isso significa um esforço coletivo de unidade junto ao PSTU, PCB, PT e PC do B, no cenário nacional.

Você apoia as lutas pelo Fora Bolsonaro? Por que?

Marcelo: Sim. Não é mais possível tolerar este Governo da Morte. Por tudo o que já expus aqui nesta entrevista e diante das mais de 500.000 mortes em nosso país, é imperativo derrubar Bolsonaro e Mourão e instituir um novo Governo.

Qual sua mensagem para os trabalhadores e servidores nesse momento?

Marcelo: Mesmo diante de uma conjuntura difícil, o ataque ao povo e à classe trabalhadora a passos largos pelo Governo Bolsonaro, impõe a necessidade de resistir. É momento de organização e de ir às ruas, atendendo as recomendações sanitárias, para lutar pela vida, por mais direitos, por vacina no braço e comida no prato. Vamos à luta!!!

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