• 14 de maio, 2024 16:30

Paulo Mendes Campos: um escritor quase bissexto. Por Luciana Bessa

ByDudu Correia

fev 25, 2022

 

Por Luciana Bessa     

 Nasci a 28 de fevereiro de 1922, em Belo Horizonte,

No mesmo ano de Ulysses e The West Land,

Oito meses antes da morte de Marcel Proust,

Um século depois de Shelley afogar-se no golfo de Spezzia.

Não tenho nada com eles, fabulosos,

Mas foi através da literatura que recebi a vida,

E foi em mim a poesia uma divindade necessária. (PMC)

O mineiro Paulo Mendes Campos nasceu em um ano auspicioso para a cultura brasileira: 1922, o centenário de nossa Independência. Essa relevante conjuntura foi celebrada com a realização da Semana de Arte Moderna, para além de um evento artístico-cultural com exposições de obras de arte, música, recital de poesias e palestras, simbolizando um momento de ruptura com o conservadorismo e renovação das artes brasileiras.

Paulo Mendes Campos foi um desses homens, “metamorfose ambulante”, que passou pelo curso de Odontologia, Veterinária e Direito, não concluiu nenhum, porque o som das palavras não lhe saía do coração, coçavam-lhe as mãos e o impeliam a escrever. Foram nove livros de poesia, quinze de crônica, um infanto juvenil, “A arte de ser neta” (1985), e inúmeras traduções que vão desde Oscar Wilde e Jane Austen passando por Emily Dickson a James Joyce.

Decidiu ser um trabalhador da palavra e a ela se dedicou desde os 23 anos de idade. Em 1945, vai para o Rio de Janeiro porque desejava conhecer o poeta Nobel de Literatura (1971), Pablo Neruda, criador de “Canto Geral”, mais do que um livro de poesias é, na verdade, uma declaração de amor à vida e ao povo chileno. Dessa viagem, Paulo Mendes Campos tornou-se morador da cidade maravilhosa até o dia 01 de julho de 1991, data de seu falecimento.

À princípio, colaborou para os principais jornais cariocas, como o “Correio da Manhã”, “Jornal do Brasil” e “Diário Carioca” – em que manteve uma coluna diária intitulada “Primeiro Plano”, e também foi Diretor de Obras Raras da Biblioteca Nacional. Como se não bastasse, escreveu ensaios, roteirizou documentários, filmes e programas de televisão.

Foi cronista da “Revista Manchete” juntamente com Rubem Braga e Fernando Sabino. Paulo Mendes Campos, ao lado de Braga, Sabino e Carlos Drummond de Andrade, deliciaram gerações de leitores com suas crônicas da série (cinco primeiros volumes) “Para Gostar de Ler”, da Editora Ática.

Campos foi um homem “de lados”: “Há um lado bom em mim… Há um lado mau em mim…” (Poema Os Lados), que ora preferia seu lado mudo, ora seu lado lírico; que escrevia poesia e por ela era premiado “O Domingo Azul do Mar” (1958) – prêmio Alphonsus de Guimaraens em 1959, mas amava a prosa (crônicas); que politicamente se definia como um socialista, mas avisava: “Não sou homem partidos”. Chegou inclusive a pensar em fazer uma revolução “que pudesse instalar o socialismo no Brasil”.

A única e não menos importante revolta instalada por Paulo Mendes Campos foi, nas Letras tentando “coordenar com harmonia” a escrita da prosa e da poesia, que brotavam de suas experiências e eram aprimoradas por sua capacidade técnica.

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