• 19 de maio, 2024 22:11

A eterna ameaça militar. Por Marcos Leonel

ByDudu Correia

fev 18, 2022

Por Marcos Leonel

A narrativa de retorno do Brasil como uma república de quinta categoria, exportadora de produtos agrícolas, refém dos novos latifúndios e submissa ao autoritarismo militar, ganha contornos de eternidade. Desde o golpe militar que instaurou a proclamação da República, quando as oligarquias, empresários emergentes, associações privadas e uma carga carregada de militares tomaram o poder de assalto, nunca essas hordas saíram de cena, nunca o Brasil deixou de ser uma republiqueta de oligarquias e militares. Juntou-se ao feudo dos latifundiários do bilionário agronegócio, o feudo político em que o poder passa de avô para filhos, netos e bisnetos, o que permite a presença eterna dos militares nas quarteladas do subdesenvolvimento brasileiro. O Brasil tem dono e o povo continua sendo escravizado de forma passiva e histórica.

As aberrações da política brasileira chegaram ao requinte maior do inadmissível com Bolsonaro, que já assumiu o governo em uma quartelada interna, nomeando militares e milicianos em banda de lata, tornando o ar irrespirável e jogando na lata de lixo da história a dignidade e a moral do povo brasileiro. Bolsonaro se tornou um bufão que ameaça a democracia, a constituição e o povo brasileiro, de forma rotineira e descaradamente audaciosa. A sua governança tem demonstrado na prática os verdadeiros traidores da pátria. Tem demonstrado sistematicamente a desmoralização do poder judiciário, a partir do momento em que o bolsonarismo exibe coligações jamais imaginada na vida pública brasileira. A cada comentário do ministro do Superior Tribunal Federal Luís Roberto Barroso sobre o arrependimento quanto ao golpe contra Dilma Rousseff, diz muito mais sobre a participação direta do STF sobre mais uma investida militar de tomada do poder, do que a suposta atitude nobre de reconhecer o erro. Mesmo porque não foi erro, foi golpe.

É muita vergonha para a sociedade brasileira dar forma e essência para a condição humilhante de eterna vítima do militarismo histórico brasileiro. Existem mais golpes militares na história do Brasil do que os míseros anos de democracia. O Brasil tem sido transformado em espelunca das Forças Armadas de quando em vez, sendo mais em vez do que de quando. Com essa expectativa latente superada apenas com a chegada da família Bolsonaro, que além de transformar o país no banheiro da sua casa, ainda teve a pachorra de transformar o país em uma espécie de monarquia teocrática militar, a única que tem um vereador federal, a única que é governada por um pai que enumera os filhos, como a quadrilha dos irmãos metralha, historieta criada no imaginário imperialista do gibi do Pateta. É sintomático o incômodo nevrálgico das ameaças de Bolsonaro, dia sim e dia sim, “sou o comandante em chefe das Forças Armadas”, “o meu exército”, “a Ditadura Militar matou pouco”, “o meu exército não vai permitir um resultado que não seja a minha vitória”, dentre tantas tentativas de dar o golpe efetivamente, como foi no último dia 7 de setembro.

Bolsonaro já chamou o ministro Barroso, do Supremo Tribunal Eleitoral, de pedófilo, de vagabundo, de mentiroso. E isso não foi suficiente o bastante para o STF formar nenhuma maioria que enquadrasse esse miliciano. Para manter Lula na cadeia e permitir a consequência do golpe, na vitória de um nazista, o Supremo formou maioria para tudo, inclusive para impedir que Lula fosse ministro, e impedir que ele desse entrevistas no período eleitoral. Não aconteceu absolutamente nada, por parte da casa maior do poder judiciário brasileiro, também, quando ele, que governa um feudo familiar militar, chamou o ministro Alexandre de Moraes de vagabundo, ordinário e ditador. Também não aconteceu nada quando o “ex-capitão” desobedeceu ao mesmo ministro. Já quando o protótipo de ditador indicou “seus” ministros do Supremo Tribunal Federal, incluindo um terrivelmente evangélico, Nunes Marques e André Mendonça, a corte da maior instância do judiciário fez festa, abriu os braços, comemorou, e enterrou no quintal do Brasil, mais uma vergonha nacional.

Toda essa celeuma envolvendo o Tribunal Superior Eleitoral e a sombra abismática dos generais de pijama, incluindo novas ameaças de golpe militar, bem como a manipulação do resultado das eleições, com Bolsonaro afirmando que: “Estou aguardando — todo o Brasil está aguardando — o que as Forças Armadas dirão sobre a resposta do TSE. Se procede, se o TSE tem razão ou se não tem razão e o porquê. E os próximos passos serão dados pelas nossas Forças Armadas”, só confirma nossa condição tacanha de terceiro mundo. A expressão não é mais usada, desde a intensificação da globalização, mas o Brasil nunca saiu de lá. Até quando o povo brasileiro será tratado como criminoso, pronto para ser escravizado, disposto a ser perseguido nas ruas e ser torturado em um quartel qualquer, enquanto eles destroem o Brasil, em nome da pátria, é difícil afirmar ou arriscar um prognóstico, uma vez que esse povo aceita tudo, normaliza tudo, e chega até mesmo confirmar nas urnas a vitória dessa tralha bélica toda. Até o momento não existe nenhum estudo sério sobre isso: sobre ser o povo capacho, sem reação e propenso a sofrer as mazelas como se fora sadomasoquista em filme pornô.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *