• 20 de maio, 2024 02:40

Centro De Cultura Mestre Noza – O celeiro das artes. Por Íris Tavares

ByTarso Araújo

fev 4, 2022

O VERBO FEMININO

ÍRIS TAVARES

 Centro De Cultura Mestre Noza – O celeiro das artes

A maioria de nós nascidos em Juazeiro do Norte, com nossas moradias nas imediações da antiga cadeia pública, na década de 1970, podemos rememorar episódios de uma história recente. As ruas São Pedro e Padre Pedro Ribeiro faziam parte da rota principal que nos levava a residência de Inocêncio da Costa Nick (1897 –  1983), natural de Taquaratinga do Norte (PE). Em 1912 veio em romaria e radicou-se na terra do Padre Cícero. Assumiu um cargo público de comissário de menor, todavia a notoriedade que lhe foi conferida adveio de sua genialidade ao burilar o imaginário nas talhas de madeira e suas composições de xilogravuras, em destaque a Via Sacra, que conquistaram os críticos de arte em Paris.

No sobradinho alugado no final da antiga rua Santo Antônio, hoje Padre Pedro Ribeiro, aquele homenzarrão se fortalecia na fé com devoção ao Padre Cícero e no seu labor como escultor. A sua oficina sempre de portas abertas recebia e comercializava as diversas encomendas como as estatuetas dos santos prediletos da devoção nordestina, mas principalmente a escultura do Padre Cícero em diversos tamanhos. Sempre solitário costumava andar nos horários noturnos nas ruas desertas da cidade milagrosa. Mestre Noza iluminado pela lua caminhava lado a lado com a sua sombra projetada na pedra tosca que cobria a calçada.  O escultor inusitado e arquiteto do imaginário popular era um homem de poucas palavras, porque se acostumara a se comunicar através de suas esculturas e demais obras da sua verve artística.

Passaram-se anos desde a sua chegança, das sessões de aconselhamento que conquistara junto ao Padre Cícero. A aproximação de Noza com o líder religioso transbordava no seu coração um sentimento de gratidão e perseverança. Imaginava-se merecedor da salvação e da proteção divina sob os cuidados do padre, o mesmo que lhe orientara fazer da sua oficina um lugar de aprendizes, formar pessoas no oficio de talhar e transformar a superfície tosca e dura da madeira em imagens de contornos divinos. A sua saúde debilitada foi motivo para que seus familiares o deslocasse para se tratar em São Paulo. Depois veio a óbito.

Em 1983, por iniciativa do poder público, a cadeia pública foi desativada e passou a sediar o Centro de Cultura Mestre Noza. O equipamento público serviu como instrumento numa singela homenagem para aquele que em vida encarnou a fé e a arte no grandioso laboratório da criatividade humana. Hoje o Centro de Cultura Mestre Noza é uma das maiores oficinas de expressão da cultura popular no interior do nordeste brasileiro e que oferece uma rica produção de arte com matéria prima em argila, cerâmica, madeira e metal, entre outros. São 37 anos desde a a inauguração que deu origem ao espaço de muita inspiração onde estão expostas diversas obras de autoria dos artesãos e artistas da Associação de Artesãos do Padre Cícero.

Numa visita ao Centro temos a oportunidade de ver, observar e dialogar com os artesãos e artesãs no meio da sua atividade laboral, onde estão criando, esculpindo, pintando, desenhando ou nos retoques finais de suas peças. É uma oportunidade de grande aprendizado para aqueles e aquelas como nós que apreciamos as diversas linguagens da arte, também é o ponto de encontro e convergência da nação romeira que expressa com boniteza a riqueza de suas tradições, fazeres e saberes. Vida longa ao Centro de Cultura Mestre Noza e aos artesãos e artesãs que reinventam a vida e transfiguram o belo, fruto da cosmovisão e resiliência dos povos do semiárido. Salve!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *