• 20 de maio, 2024 02:00

Um duro contragolpe

ByDudu Correia

jan 10, 2022

Bolsonaro tomou duas invertidas históricas, ficou sem palavras, ficou sem palanque, não conseguiu impedir que as Forças Armadas descontinuassem suas bravatas golpistas, ficou enfurecido, e mesmo enfezado só conseguiu promover o sacrifício do camarão zumbi a palhaçada de Estado, pois nem mesmo o golpe da facada sensibiliza mais o gado patético que muge no cercadinho. Há quem acredite que o partido político das Forças Armadas esteja pronto para dar um golpe no golpe orquestrado pela família em governo, a partir da ideia de confronto com Bolsonaro, criar o caos e depois salvar a democracia, em nome deles. Pode ser especulação ou não, mas o fato é que se inicia uma crise.

A nota do diretor presidente da Anvisa, o Contra Almirante da Marinha Antônio Barra Torres, não foi uma resposta aos ataques terroristas de Bolsonaro ao órgão e aos seus conselheiros que aprovaram a vacinação em crianças, foi uma enquadrada monumental. Foi uma verdadeira humilhação pública providencial. Já a decisão do comandante do Exército, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, em determinar o uso de máscaras, vacinação e proibição de fake News sobre Covid-19, foi uma resposta retumbante aos ímpetos de sabotagem presidencial. O próprio Exército já havia prenunciado ataques terroristas e tumulto diante das eleições. Não há dúvidas de onde partiria essa baderna, somente os bolsonarista estão fazendo há três anos, em um governo completamente militarizado. Seria cortar a própria carne?

Nem toda direita é volver: é o que a ordem desunida está a revelar? Barra Torres foi insípido e claro, não deixou que entrelinhas ditassem a regra. Foi direto ao ponto: não sou golpista, não sou corrupto, não sou ladrão, não sou negacionista, não sou milionário e nem me aproprio do dinheiro público, e ainda fez o convite para que aquele que governa em família, única no mundo que tem um vereador federal, que se existisse alguma prova contra ele que fosse devidamente apresentada. Uma enquadrada histórica mediante a atitude sem decoro do mandatário, com ameaças e leviandades chulas. Barra Torres escreveu e assinou usando a sua patente na Marinha. De fato, fica inusitado a Anvisa ser esse campo de batalha de hierarquias, até parece que caudilho está provando o fel da própria milícia que ele criou, parece que ele está consumindo o seu próprio subproduto totalitário. Só parece?

Barra Torres escreveu: “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar. Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.”, atestando o quanto esse perdulário é pequeno, insignificante, sem dignidade.

Bolsonaro está cada vez mais isolado em sua solidão de caudilho caricatural. As Forças Armadas foram duramente atingidas na gestão mais vergonhosa da história brasileira, além de carregarem de forma inconteste um perfil de incompetência descomunal, uma vez que integram o maior fracasso administrativo da história pública brasileira, são mais de seis mil cargos, a maioria em posição privilegiada dentro do desgoverno. Exceto nas dependências da Anvisa, desde a chegada de Barra Torres, um militar anunciado com efusão, era a esperança cretina de Bolsonaro em aparelhar ideologicamente o órgão. O tiro de Bolsonaro saiu pela culatra, o de Barra Torres foi na mosca, literalmente.

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