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A biblioteca é o coração da comunidade. Por Íris Tavares

ByTarso Araújo

out 29, 2021

POR ÍRIS TAVAES/COLUNA O VERBO FEMININO

PUBLICADA NO JORNAL LEIA SEMPRE

 A política do apagão cultural tomou conta do Brasil. O embrião reside nos pequenos, médios e grandes centros urbanos. Estamos mais pobres a cada dia que passa. O nosso patrimônio continua sendo dilapidado e ameaçado pela inoperância da gestão pública que não prevê recursos para manutenção das estruturas que dão guarida ao acervo histórico e cultural dos nossos povos. O Museu Nacional e o galpão da Cinemática Brasileira foram tragados pelas chamas do fogo que devorou um milhão de documentos da antiga Embrafilme entre roteiros, arquivos em papel, cópias de filmes e equipamentos antigos, com mais de cem anos que contariam a história do cinema brasileiro para as futuras gerações. Memória e verdade são pilares do direito humano. A nossa afrodescendência nos impõe muita responsa, como por exemplo citar a Biblioteca al-Qarawiyyin em Fez, Marrocos. A mais antiga da África e do mundo, fundada em 859 e guarda manuscritos com mais de 12 séculos. Foi criada por uma mulher, o que reforça a importância da mulher na civilização mulçumana. Foi restaurada em 2012, por meio do Ministério da Cultura marroquina que tornou possível reabri-la ao público em 2016. Mais qual é a importância da biblioteca?

Nos arriscamos a dizer que hoje, mais do que nunca, as bibliotecas e as bibliotecárias são extremamente importantes para a preservação e melhoria da nossa cultura. “Biblioteca não são só livros”.  As bibliotecas físicas não podem desaparecer ou permaneceram fechadas, no caso especifico da Biblioteca Pública Municipal Dr. Possidônio da Silva Bem em Juazeiro do Norte, que permanece fechada a dois anos e cuja justificativa do poder público está embasada na quebra de contrato da empresa financiada com dinheiro dos contribuintes para realizar as reformas necessárias ao equipamento, mostrou-se ineficiente e incapaz na realização do serviço, enquanto isso professoras, pesquisadoras e estudantes ficaram sem acesso ao acervo da biblioteca. O investimento previsto para reforma estaria na ordem de mais de meio milhão de reais para entregar um ambiente com acessibilidade, a criação de dois espaços dedicados a títulos em braile e outro voltado para histórias em quadrinhos, além de salas de estudos individual e de leitura coletiva, como também a recuperação das instalações elétrica, hidráulica e telefônica, assim como a conectividade apropriada. Foram esses os itens que conseguimos pesquisar sobre os produtos da reforma. A previsão de entrega da obra seria em janeiro de 2020, todavia passaram-se meses e nada aconteceu. A gestão atual caminha para metade do seu mandato e a novidade que apresenta é um novo certame licitatório. Quanto tempo ainda será demandado para reavermos a nossa biblioteca?

É certo que não somos a biblioteca de Fez, entretanto temos a mesma importância. Falamos do maior acervo da região do Cariri, que soma cerca de 27 mil exemplares e cujo equipamento compõe uma das oito bibliotecas polo do Ceará. De acordo com os dados da frequência de fevereiro de 2019, a biblioteca recebia em média mais de três mil usuários por ano, mesmo nas péssimas condições em que se encontrava. De todo modo é importante avaliar que a despeito da frágil condição da infraestrutura do prédio com mais de cinquenta anos de edificação, a ausência de políticas de valorização e renovação do acervo e também de incentivo aos profissionais da área, não foram adequados para tornar o local um ambiente convidativo à população. O mobiliário deteriorado, o registro de empréstimos bastante démodé, a infiltração e umidade do local são problemas graves para uma biblioteca. Afinal onde foi depositado o nosso acervo?

Com a interdição da biblioteca os títulos foram transferidos para o Centro de Cultura Marcus Jussiê, para na etapa seguinte prover um processo de informatização com a digitalização para facilitar a procura pelos usuários. Isso foi concluído? Não temos essa informação disponível. O fato é que o poder público de Juazeiro do Norte tem uma dívida importante que precisa saldar junto à comunidade de pesquisadoras, estudiosas e leitoras do Cariri, do Brasil e do mundo, pois é certo que estamos falando da meca do nordeste brasileiro, da sede da nação romeira, da nação Kariri, do epicentro das grandes lutas protagonizadas pelo movimento social em defesa das liberdades e emancipação dos povos e comunidades tradicionais. Por isso estamos de olho e queremos o nosso acervo e a nossa biblioteca de volta.

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