• 18 de maio, 2024 13:39

Hilda Hilst – Ousada em prosa e em verso. Por Luciana Bessa

ByTarso Araújo

out 22, 2021

Hilda Hilst – Ousada em prosa e em verso

Luciana Bessa

Idealizadora do Blog Literário: Nordestinados a Ler

 “Fico besta quando me entendem”. Clássica frase de Hilda Hilst, que dá título a um dos seus livros, uma das mulheres mais conscientes do seu papel enquanto escritora e, que por isso, conseguiu unir a técnica da poesia à expressão do sentimento.

Nascida em 21 de abril de 1930, em Jaú, SP, Hilda de Almeida Prado, ou simplesmente Hilda Hilst, poeta, cronista, dramaturga, uma mulher inquieta, ousada e perspicaz, teve pouco reconhecimento em vida como escritora, mas com muitas necessidades prementes: ser (mais) lida pelo público era uma delas.

O que faz um escritor/escritora ser lido/a pelo público é, para mim, um grande mistério. Há quem diga que Guimaraes Rosa, criador de Grande Sertão: Veredas, é um escritor difícil, contudo ele é muito lido. Outros dizem que Euclides da Cunha “pesou a mão” em Os Sertões, obra extensa (dividida em três tomos) lida, relida e debatida por especialistas e leitores, tal qual os livros de Clarice Lispector.

O que sei é que Hilda Hilst insatisfeita por seus livros não terem a quantidade de leitores que gostaria resolveu, na década de 90, não mais produzir “literatura séria” e enveredou pelo universo da escrita pornográfica com a trilogia Contos d’Escárnio.  Textos grotescos (1990), Cartas de um sedutor (1991), Caderno Rosa de Lori Lamby (1992) e depois Bufólicas (1992), narrativas subversivas e polêmicas.

Hilda Hilst disse, então, ter conseguido alcançar seu intento: chamar a atenção do público e da crítica especializada (não positivamente).  Por vezes não é fácil a relação entre livro e leitor. A leitura implica, necessariamente, reciprocidade entre ambas as partes. Todo escritor imagina um leitor “ideal” para sua obra. Além disso, existe a forte ideia disseminada pela Academia da existência de um leitor “mais competente” e de um leitor “menos competente”. Sei tão somente que Livro e Leitor precisam desenvolver uma simbiose para que a leitura ocorra, porque é este último quem legitima ou não a obra literária.

Sei, ainda, de uma frase citada por Hilda de uma poeta americana: “Leia-me, não me deixe morrer!”, que me sensibiliza, me leva a refletir  sobre o quão  difícil é o ofício de escrever, assim como na responsabilidade que o leitor assume diante de um livro.

Hilda foi rotulada de mulher “eremita, arredia, indomesticável” e de ser uma escritora erudita e hermética, mas foi premiada em versos, Cantares de perda e predileção, (1980, Prêmio Jabuti), em prosa, Ficções, (1977, Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte) e no teatro, O verdugo, (1969, Prêmio Anchieta). Ela dominava como poucos seus apetrechos de trabalho e era consciente de suas escolhas semânticas, fonéticas e sintáticas, por isso recusava-se a produzir uma “literatura dengosa” ou “água com açúcar” para ser lida como fizeram alguns escritores do século XIX, a exemplo de Joaquim Manuel de Macedo.

Criadora de uma obra diversificada e extensa, adepta do fluxo de consciência, cultivou temas como a insanidade, o misticismo, a libertação sexual feminina, o erotismo; a produção literária de Hilda Hilst abrange mais de quarenta títulos (poesia, ficção, teatro). Com uma linguagem inovadora, ácida e questionadora, ousou desafiar o mercado editorial e não se calar quantos aos rótulos recebidos. Quando a chamavam de obscena em alusão à obra (A obscena senhora D), era categórica em dizer: Obscena para mim “é a miséria, a fome, a crueldade, a nossa época é obscena”.  Duvida?

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