• 18 de maio, 2024 14:19

Paulo Guedes e o indefensável. Por Marcos Leonel

ByTarso Araújo

out 8, 2021

COLUNA FALA LEONEL

POR MARCOS LEONEL

 

Paulo Guedes e o indefensável

 Paulo Guedes e Roberto Campos estão no olho do furacão do novo escândalo parido pelas entranhas obscuras do governo de Bolsonaro, o ignoto. “Pandora Papers” é uma série de reportagens que estão sendo publicadas pelo do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês). Participaram da investigação 615 jornalistas de 149 veículos em 117 países. No Brasil, fazem parte da investigação o Poder360, a revista Piauí, a Agência Pública e o site Metrópoles. A investigação dos Pandora Papers é baseada em 11,9 milhões de arquivos. Os dados cobrem um período que vai de 1990 a 2019. Essa é a maior investigação jornalística financeira de todos os tempos.

Esse material revela a existência de empresas e contas em paraísos fiscais, onde é possível operar transações financeiras e realizar investimentos a partir da normalização da sonegação de impostos e de todos os mecanismos que fundamentam a bandidagem financeira no mundo. Dentre tantos e tantas, o ministro da Economia e o presidente do Banco Central do Brasil foram flagrados na calada da noite. O que não é pouca coisa, em hipótese nenhuma, por se tratar das duas maiores autoridades monetárias brasileiras e se tratar da metodologia específica utilizada por quem lava dinheiro e sonega impostos.

Os paraísos fiscais é onde orbitam, se alimentam, crescem e se reproduzem os doleiros brasileiros. Os doleiros são aqueles que conhecem e sabem trilhar os becos escuros da lavagem de dinheiro, da garantia do anonimato e da permissividade do enriquecimento ilícito. Os doleiros são eles legalizados no Brasil e são sempre eles os primeiros a serem investigados em qualquer escândalo financeiro no Brasil. Da mesma forma são legalizadas empresas e contas brasileiras e brasileiros que operam nos paraísos fiscais. Também são os primeiros e primeiras, junto aos doleiros, a serem denunciados e investigados em qualquer escândalo financeiro no Brasil.

 

Trata-se, portanto, da legalização da ilegalidade, uma vez que se sabe de forma normalizada, por investigados e investigadores, que as operações feitas em paraísos fiscais existem pelo princípio da burla, do escondido, do camuflado. O maior requinte de crueldade das elites financeiras é poder abrir uma empresa offshore com várias contas em atividade marginal, pois isso requer fortunas fundamentadas e motivos de sobra para atuar em sigilo garantido. O ritual dessa clandestinidade ilibada inaugura o paradoxo da facilitação do dolo, já que é extremamente complexo se habilitar nesse tipo de movimentação do capital: limpar a sujeira com mais sujeira.

 

A sombra da suspeita se torna mais assombrosa ainda do que já é, quando o ministro da economia de um país, civilizado ou não, opera livremente nos paraísos fiscais, com empresas e contas proficientes, durante a sua posse na pasta, exatamente aquela em que ele define todas as estratégias e implicações monetárias para quem operam dentro e fora do país. Mesmo que se declare como não administrador, mesmo que se vocifere que as empresas estão inativas, o dolo existe e é ululante. A premissa da declaração legal à Receita Federal não interfere no resto do processo de falta de ética, de falta de vergonha, de falta de moral. Tentar defender uma rotina absolutamente plausível de ser permitido que um ministro da economia tenha contas e empresas em paraísos fiscais é defender que o crime compensa, mas só para ricos.

 

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