• 18 de maio, 2024 07:22

O clã das rachadinhas. Por Marcos Leonel

ByDudu Correia

set 3, 2021

O vigarista é um ser tão atuante na sociedade brasileira de tal forma que ela exerce com ele um longo processo identitário, em que já não se sabe se foram os meios que se juntaram aos fins ou se foi a menor parte que se fez o todo. Bolsonaro é o maior vigarista em atividade no Brasil, dono de uma infâmia invejável, que o capacita como o maior operador da mentira entre os profissionais da patifaria nas terras invadidas por Cabral. De forma histórica, a invenção do cotidiano brasileiro é uma questão antropológica, em que o vigarista sorri, satisfeito por estar inserido de forma natural na sociedade brasileira.

Um pai que enumera os filhos pela ordem de nascimento não tem uma prole, tem uma tropa, invasora e operante. O Brasil tem vários vigaristas em atividade política. Historicamente, depois da proclamação da república, o país nunca fora governado por uma família, até a tropa Bolsonaro executar a operação principal de ocupação do poder. Muitos vigaristas abrem portas e fecham segredos nas dependências, nos esgotos e cercanias de Brasília, às vezes com cem anos de sigilo. Mas, só agora, uma família de vigaristas faz isso, depois da família real. Isso é história. Isso é conservadorismo. Isso é moral reversa.

O crime da rachadinha, que consiste na roubalheira do dinheiro público através de funcionários fantasmas e funcionários indicados para devolverem a maior parte dos salários aos políticos empregadores, foi uma invenção de um vigarista qualquer. O clã Bolsonaro se tornou especialista nesse golpe, de forma histórica, isso vem se desenrolando há mais de 20 anos. Não é um sigilo qualquer que será capaz de ocultar isso. Facilmente a polícia e a imprensa conseguiram desbaratar o pai e os filhos numerados, facilidade essa que a justiça, desde o tempo imperial, não consegue encontrar para punir. Pode ser que seja uma questão de identidade ou de culpa compartilhada, isso é outra coisa que não se sabe ao certo como se foi parar nos anais sociais do Brasil, aqui só se sabe que a justiça é cega.

Nem mesmo a inoperância da justiça em punir essa pilantragem política é novidade. Tudo é velho nesse golpe. Já a banalização desse golpe é histórica, daí a façanha do vigarista, transformar essa bandalheira em princípio moral. Mais do que isso, inverter valores é uma atribuição histórica do vigarista. De forma antropológica a sociedade brasileira gosta de inventar uma outra sociedade brasileira para culpa-la e levantar dúvidas sobre a sua fé e o seu amor à família. A cruzada do clã Bolsonaro contra a corrupção, por amor à pátria e em nome de Deus, é uma patifaria que provoca orgulho em parte da sociedade brasileira, que vem alimentando esse mito da honestidade cristã desde a chegada da família real, que inventou o cargo de vigarista mor, junto com a invenção da nação brasileira, com uma mão sobre a bíblia e a outra no tesouro nacional.

De forma antropológica, a história do clã Bolsonaro é a história estendida da ação do vigarista na política brasileira. É uma espécie de manual de como não precisar de cem anos de sigilo e como praticar a rachadinha debaixo do nariz da justiça, da polícia e da imprensa, sem que exista punição nenhuma, com o adicional da defesa de boa parte da sociedade brasileira, que enxerga aí um dos pilares do conservadorismo e da moral. É claro que se trata de uma trama macabra contra Carlos, Flávio e Messias, implementada pelo comunismo, que chegou ao Brasil escondido clandestinamente nos porões das caravelas Santa Maria, Pinta e Nina, que aportaram no Brasil bem antes de Cabral, sendo esse feito mantido em segredo de justiça, já por mais de quinhentos séculos.

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