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Ala feminina da Casa Juvenal Galeno. Por Luciana Bessa

ByTarso Araújo

ago 27, 2021

Por Luciana Bessa

Coordenadora da Roda de Poesia do Coletivo Camaradas e idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler

 

De todas as instituições que contribuíram para a formação e consolidação da Literatura Cearense (Clubes e Gabinetes de Leitura, Grêmios Literários) as mulheres foram excluídas. Dessa forma, a história literária cearense, durante o século XIX, foi contada pelos homens. Imperou a dominação masculina.

Salientamos que entre a passagem do século XIX e início do século XX houve escritoras de grande expressividade, mas que não tiveram a repercussão merecida, como é o caso de Emília Freitas, autora de A rainha do ignoto (1899); Francisca Clotilde, com o romance A divorciada (1904); Alba Valdez, memorialista na sua novela Dias de Luz (1907); e Ana Facó, com Páginas íntimas (1938).

Não nos esqueçamos de que o início das atividades intelectuais da mulher coincide com o nascimento da modernidade. Na década de 1930, Fortaleza respira outros ares e a literatura se abre para outros mares quando Rachel de Queiroz (1910-2003), primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, publica a obra O Quinze (1930).

Há, também, a ganhadora do prêmio Osmundo Pontes pelo romance A Casa (1999), Natércia Campos e ganhadora do prêmio Funarte Tércia Montenegro com o livro de contos O vendedor de judas (2011). Depois de cento e dezesseis anos, a Academia Cearense de Letras (ACL) teve como presidenta a escritora Ângela Gutiérrez, autora dos livros O Mundo de Flora (1990), Canção da Menina (1997), entre outros.

Contudo, uma das instituições literárias fortalezenses ganhou um novo caráter. Em 1936, a filha do poeta Juvenal Galeno, Henriqueta Galeno (1887-1964), cria a “Falange Feminina”, hoje, Ala Feminina seguindo o modelo de uma Academia de Letras com 40 patronas, cujo objetivo era acolher a intelectualidade feminina silenciada ao longo da história.

A residência do poeta Juvenal Galeno, construída pelos idos de 1888, é hoje a Casa de Juvenal Galeno e localiza-se à Rua General Sampaio, nº 1128, bairro Centro, na Terra do Sol, Fortaleza – Ce. Ela sempre foi frequentada pelos nomes mais importantes da cultura cearense, como Patativa do Assaré, Raquel de Queiroz, Demócrito Rocha etc.  Atualmente é um equipamento social mantido pelo Governo do Estado e abriga mais de dez instituições literárias, dentre elas a Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno.

Rompendo com o ambiente essencialmente masculino, a Ala Feminina nos primeiros anos de sua existência enfrentou muitas pedras no caminho e não conseguiu, por exemplo, preencher o seu quadro de participantes. Apesar das dificuldades, há 83 anos, todo segundo domingo de cada mês, ao cair da tarde (16h), a Ala Feminina, hoje, com sessenta cadeiras recebe mulheres e discute para além do fazer literário questões relevantes de interesse do público feminino. Trata-se de uma agremiação que contribuiu para tirar a mulher do silêncio imposto pelo século anterior.

Em 1949 Cândida Galeno (1918-1989), neta de Juvenal Galeno, cria a “Revista Jangada” com o propósito de levar para outros mares a Literatura Feminina cearense, que durante décadas foi construída somente por homens. Durante 26 anos a Revista cumpriu seu propósito, mas por questões financeiras encontra-se, hoje, submersa em águas alencarinas

O ingresso na Ala Feminina ocorre mediante a realização do “Elogio às Patronas”, ou seja, um trabalho em torno da vida e da obra de uma determinada escritora. O texto de natureza acadêmica após sua aprovação é publicado em forma de Antologia, Mulheres do Brasil, atualmente, está no sexto volume. Outra publicação é o Livro da Ala, em sua segunda edição. Em virtude do aniversário de 83 anos da Ala, no ano de 2019, foi lançado o livro Mulheres Notáveis, todos na gestão da presidente Matusahila de Sousa Santiago.As mulheres, antes restritas ao espaço privado, têm na Ala Feminina um espaço público onde podem se fazer ver e ouvir. Seus trabalhados, antes guardados a sete chaves, podem ser lidos, debatidos, publicados, sendo, também, levado para lugares longínquos. Como linguagem é poder, a mulher lutou e conquistou o direito de narrar sua própria história. A Ala Feminina contribuiu para esse protagonismo.

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