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Tucanos reclamam que ajuda federal à enchente rouba voto deles

ByTarso Araújo

maio 22, 2024

HÁ 14 ANOS, a jornalista Eliane Cantanhêde escreveu uma coluna para a Folha intitulada “O partido das massas cheirosas”. Ela se referia ao esforço do PSDB em parecer um partido popular, de massa. “Mas de massas cheirosas”, teria lhe dito um assessor tucano.

Agora, em meio à tragédia climática no Rio Grande do Sul, a colunista cheirosa tentou demonstrar alguma empatia ao se colocar no lugar de quem perdeu tudo: “Você se põe na posição dessas pessoas que perderam tudo. Roubaram as minhas joias no Natal de 2023. Foi doloridíssimo”.

Esqueça aquele partido de Alckmin, Serra e FHC. Os tucanos perderam força e relevância, mas continuam no cenário político como puxadinho da extrema direita. O PSDB hoje é um nanico de direita que foi engolido eleitoralmente pelo bolsonarismo e hoje atua a reboque dele no congresso nacional.

Trocaram o perfume francês por aquela colônia vagabunda do Bolsonaro vendida pelo maquiador da Michelle. Deve ter sido “doloridíssimo”.

Há duas semanas, enquanto o governo federal se mobilizava para atender às vítimas da tragédia, o PSDB emitiu uma nota oficial criticando Lula pelo atraso, omissão e discriminação contra o governador do Rio Grande do Sul pelo fato dele ser tucano.

No dia anterior à nota, Lula já havia visitado o estado, se encontrado com Eduardo Leite e determinado a instalação de uma base do governo federal para centralização das informações e coordenação das ações. Ou seja, as reclamações da cúpula tucana eram pura bravata política.

Agora, depois que Lula anunciou a criação de uma secretaria extraordinária para apoiar a reconstrução do estado gaúcho, o PSDB novamente apareceu para criticar.  Dessa vez a crítica não é por omissão, mas por um excesso de ajuda que pode render frutos eleitorais para o PT no estado.

A escolha do petista Paulo Pimenta para comandar a nova pasta incomodou tanto os burocratas tucanos que eles estudam entrar com uma ação na Justiça para contestar a constitucionalidade da indicação do ministro.

Mesmo com Pimenta deixando claro que o novo órgão atuará para dar apoio ao governo do estado, o PSDB trata o caso como uma intervenção inapropriada do governo federal.

O ministro, porém, deixou claro para o governador gaúcho que o papel da secretaria extraordinária será o de “complementar e suplementar ao do governo do estado e das prefeituras”. O fato é que os tucanos estão de olho na disputa eleitoral e temem o fortalecimento da imagem de Pimenta no estado.

Não sejamos ingênuos. É claro que a escolha de Pimenta realmente carrega esse componente eleitoral, afinal de contas estamos falando de políticos. Isso ficou claro no tom da cerimônia em que foi anunciada a criação da nova pasta.

Mas isso está bem longe de ser uma pura e simples exploração eleitoral da tragédia como apontam os tucanos e boa parte do colunismo cheiroso. O trabalho do governo federal no socorro ao estado tem resultado em ações concretas, com muito dinheiro do governo federal envolvido no socorro às vítimas e na reconstrução do Rio Grande do Sul.

Todas as demandas do estado e dos municípios têm sido atendidas e até mesmo Eduardo Leite admite, ainda que envergonhadamente, que tem contado com toda assistência do governo federal. O PSDB chegou inclusive a consultá-lo sobre a possibilidade de ingressar na justiça contra a criação da nova pasta comandada por Pimenta.

Segundo a jornalista Daniela Lima, da Globo News, o governador respondeu aos líderes partidários que não entrará em conflito com o ministro e o governo federal porque precisará da ajuda deles para a reconstrução do estado.

O presidente do partido, Marconi Perillo, afirmou em nota que a criação da secretaria extraordinária causa “espanto e estranheza” e que a escolha de Pimenta tem caráter eleitoral visando a campanha de 2026.

“Se uma crise dessa magnitude tivesse ocorrido em um Estado governado por um aliado do presidente da República como Bahia, Ceará e Piauí, por exemplo, o governo agiria da mesma forma? Claramente não. O que estamos assistindo é, no mínimo, uma falta de compromisso muito grande do governo federal com a população gaúcha, com o Estado do Rio Grande do Sul e, em última instância, com a própria democracia”.

Até o falecido Aécio Neves levantou da catacumba para criticar a indicação de um “adversário com projetos políticos no estado”. Segundo ele, “houve uma indelicadeza porque o governador não foi consultado”. Aécio faz beicinho porque Lula não teria avisado Leite que criaria uma pasta para ajudar o seu estado. Percebam o tamanho do ridículo.

A choradeira é tão grande que até parece que essas declarações da liderança tucana não estão carregadas de intenções políticas e eleitorais. Ora, qual seria o objetivo do PSDB em entrar na justiça contra o governo federal senão o eleitoral?

É curioso que, parte da imprensa cheirosa aponta as intenções eleitoreiras do PT, mas nada se fala sobre Eduardo Leite e o PSDB, como se estes fossem vestais de pureza.

Ganhar pontos com o eleitorado fazendo a boa política faz parte do jogo. Se o governo federal não estivesse cumprindo sua obrigação institucional em ajudar o estado gaúcho, a criação do órgão e a escolha do Pimenta certamente deveriam ser criticados pela intenção puramente eleitoreira em cima da tragédia.

Mas claramente não é o caso. A obrigação está sendo cumprida e com louvor. Já a gritaria dos tucanos com a ajuda do governo federal não me parece fazer parte da boa política e está puramente contaminada pela disputa eleitoral de 2026. Foi por causa desse tipo de mesquinhez que o PSDB morreu.

Lembremos que Alckmin teve que sair do partido para poder fazer parte de uma frente ampla para interromper a continuidade de um governo autoritário e fascistoide. Entre o golpismo e a democracia, o partido preferiu lavar as mãos.

 

Publicado no The Intercept Brasil

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