• 18 de maio, 2024 09:24

MESTRE NENA SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA E NOSSA VOZ

ByTarso Araújo

jan 27, 2023

Foi no sábado passado, mais precisamente no dia 21 de janeiro. Logo depois da madorna do meio dia. Exatamente no dia que o Mestre Nena Bacamarteiro da Paz fez sua dispensa da atividade laboral de agricultor familiar para se dedicar ao convívio entre os familiares e os comunitários que transitam no bairro João Cabral. A sua casa é um museu vivo da tradição e saber populares encravados no coração da periferia. A voz cortada do Mestre no telefone dizia: minha amiga eles não nos respeitam, jogam na nossa cara que somos favelados negros e pobres, vagabundos e desocupados, bandidos. Uma pausa marcada por um longo suspiro fez denotar tristeza e decepção a transbordar o coração e a alma daquele ser humano brincante de 72 anos de idade.
Naquela tarde o mestre viu seu filho ser espancado. Aquele jovem trabalhador motorista de aplicativo, pai de três filhos, os netinhos do Mestra Nena. Os comunitários e vizinhos do Mestre presenciaram horrorizados os policiais brutamontes do BP Raio espancarem, socarem e aplicar uma gravata sufocando Francieldo, o filho do Mestre, enquanto ele afirmava ser um cidadão consciente de seus direitos. O policial possesso berrava: cale a boca que você está inflamando. Os comunitários perplexos viram quando o policial sacou a arma e atirou contra o nosso Mestre que correra para acudir seu rebento. A população alvoraçada, revoltada se insurgia contra aquela violência desmedida. O Mestre perdeu o equilíbrio caiu e sentiu o peso das botinas do torturador pressionarem seu abdômen. Desde então o eco insuportável das palavras de humilhação e desrespeito ecoam na mente do Mestre. Seu velho babaca, cai fora! Cara de buceta.
O pedido de socorro do Mestre desvenda a mordaça que torna refém a população pobre e negra do João Cabral. As rondas ostensivas, a invasão nos domicílios, pois sequer dispõem de ordem judicial. Que absurdo é esse? Os Kariris e toda a ancestralidade que habita em nós está em vigília. Somos todos Bacamarteiros da Paz e almejamos justiça e uma policia que combata a violência. Não queremos policiais armados atirando no nosso tesouro humano vivo e tocando o terror na comunidade de João Cabral e tantas outras dos nossos bairros populares que sofrem descriminação e convivem com os abusos de policiais despreparados que não honram a farda que vestem. Basta de violência policial. Queremos respeito e tolerância e exercer a nossa cidadania, pois somos cidadãos conscientes dos nossos direitos. Nossa solidariedade ao Mestre Nena e família e a todo o povo negro e pobre da periferia. Salve!
Íris Tavares – Historiadora e Escritora.

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