• 18 de maio, 2024 05:22

O ano termina e começa outra vez. Por Luciana Bessa

ByTarso Araújo

dez 29, 2022

“Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina e nasce outra vez…” (Simone)

Essa estrofe me acompanha desde pequena e grudou em minhas entranhas de tal forma, que todo mês de dezembro, por mais que não a escute, ela ecoa dentro de mim.

É verdade que 2022 não foi um ano fácil, mas até os espinhos nos trazem aprendizado. Mas o Blog Nordestinados a Ler (https://nordestinadosaler.com.br) funcionou de vento em popa. Foram publicados textos, cards homenageando escritores e escritoras no Instagram (@nor.destinados) semanalmente, além do programa, todos os sábados, às 17:00h, na Rádio Cafundó (http://play.radios.com.br/179244). Estreamos, ainda, no Spotify.

Realizamos oito Discussões Literárias. Tratam-se de encontros virtuais que acontecem de maio a dezembro, sempre no último sábado de cada mês, às 15:00h, via Google Meeting. Escolhemos uma obra de uma escritora nascida na Região Nordeste e nos encontramos para o debate. Iniciamos com A vida invisível de Eurídice Gusmão, da recifense Martha Batalha. Por meio de uma linguagem fluída e de uma narrativa dinâmica, conhecemos não só a história de Eurídice, mas de sua irmã Guida, baseada na vida das avós da autora, mas que também poderia ser das nossas avós. O leitor, em dado momento de sua leitura, pode até se perguntar: “será que todas as mulheres nesta história são tristes e amargas? De jeito nenhum”. Pelo contrário: são mulheres fortes, sonhadoras e aguerridas lutando contra a invisibilização.

Em seguida, discutimos O pássaro secreto, Prêmio Kindle de Literatura 2020, da campinense Marília Arnaud. A personagem principal, a adolescente Aglaia Negromonte, me fascinou e me amedrontou pela sua sensibilidade, inteligência, complexidade, dor de existir e seus tormentos.

Atire em Sofia (1989), da baiana Sônia Coutinho, aborda a liberdade social e sexual das mulheres em plena segunda metade do século XX. A personagem Sofia representa todas as mulheres que transgrediram e continuam transgredindo os valores castradores de uma sociedade que pune e mata mulheres, quando suas escolhas não coincidem com o que rege o patriarcado.

Redemoinho em dia quente, da juazeirense Jarid Arraes, publicado em 2019, apresenta ao leitor trinta contos, ambientados na Região do Cariri, protagonizados por mulheres, que facilmente os leitores conseguem se identificar: meninas, moças, idosas, transgêneros, homossexuais, bissexuais. A obra está dividida em duas partes: “Sala das candeias” e “Espada no coração”. Na primeira, é feito uma referência à Nossa Senhora das Candeias; na segunda, à padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores, celebrada no dia 15 de setembro.

Na V Discussão Literária, abordamos o romance de estreia da sergipana Tina Correia: Essa Menina De Paris a Paripiringa (2016). O pano de fundo dessa narrativa são os grandes eventos políticos do final dos anos de 1930 a 1960. Essa Menina, ou melhor Esperança, viveu uma vida pobre economicamente, mas rica de amor ao lado de sua mãe, da Vovó Grande, do vovô, da velha Iandara, das amigas Das Dores, Diacuí e da titia, sua grande mentora e incentivadora. No auge dos seus oitenta anos, “Essa Menina”, sente que sua memória está cada vez mais confusa, então, resolve registrar, desde sua infância em Parapiranga, um bairro pobre e sem energia elétrica, até sua velhice na cidade Luz, Paris.

Em Memórias de Bárbara Cabarrús (2008), da paraibana Nivaldete Ferreira, conhecemos Bárbara, uma mulher forte, destemida, dotada de sensibilidade e um olhar generoso para o próximo, que precisou pressionar seu pai, pegar em uma espingarda e apontar para o seu irmão para ter o direito de estudar, em uma época, século XIX, em que a mulher era destinada ao casamento e à reprodução.

Dôra, Doralina, 1975, é uma narrativa extensa, mas a linguagem envolvente e ágil cativa rapidamente o leitor. Como em uma peça em três atos, três são as partes em que a obra é dividida: I Livro da Senhora – conhecemos a jovem Maria das Dores e sua relação ácida com a mãe, Senhora. Livro II – Companhia: Dôra, mulher viúva, vai morar em Fortaleza e acaba entrando para uma companhia de teatro ambulante e se torna Nely Sorel. Livro III – Comandante: Dôra apaixona-se e torna-se uma mulher submissa. Mas a vida turbulenta e desregrada de Asmodeu o leva à morte. Trajada de preto, Dôra atravessa toda a Aroeiras e veste a roupa de Senhora.

Por fim, saímos da prosa e nos deleitamos com a poesia da recifense de ascendência russa, Adelaide Ivánova, O Martelo, Prêmio Rio de Literatura 2018. É uma obra dividida em duas partes, com quinze poemas cada uma, que retrata a mulher dentro de um contexto patriarcal, logo, oprimida e silenciada por uma sociedade (em especial pela própria mulher) retrógrada e misógina.

Vida longa ao Nordestinados a Ler! Que 2023 nos traga outras discussões literárias!

Texto de Luciana Bessa
Na Coluna Nordestinados a Ler
Jornal Leia Sempre Brasil

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