• 2 de junho, 2024 19:47

O funk do caos. Por Marcos Leonel

ByTarso Araújo

dez 24, 2021

FALA LEONEL

POR MARCOS LEONEL

 O funk do caos

 Realmente o problema não é dançar funk. Dançar é saudável e divertido. O funk made in Brasil é cultura popular, não tenha dúvidas dos fenômenos interativos da globalização. O problema está no recorte político da história recente do Brasil, em que o presidente em família corrobora toda a sua postura decadentemente desqualificada ao dançar um funk misógino e homofóbico, encomendado pelo gabinete do ódio, pronto para parir o escárnio maior que pisoteia a dignidade do povo brasileiro, sem dó e nem piedade. A trilha sonora do caos é produto direto do departamento de destruição do clã Bolsonaro. “E ri-se a orquestra irônica”, como disse Castro Alves, sobre a “dança macabra”, que o povo brasileiro é obrigado a dançar no tombadilho de novo “Navio Negreiro”.

Ao mesmo tempo em que o presidente fajuto e seu ministro da economia não menos, o único no mundo que tem contas em paraísos fiscais, sendo ele a maior autoridade monetária do país, em uma sinfonia wagneriana de crime prontamente oficializado, saem de férias, o país não deixa de marchar para o campo de extermínio institucional. A orquestra da governança é fantasmagoricamente desafinada, é ela completamente incapaz de embalar qualquer alento. Quando o chefe da família em governo sai de férias, ele origina o maior pleonasmo do vernáculo pátrio, esse que Castro Alves domina como um maestro, pois nunca trabalhou em sua desgovernança. Sua agenda contempla eventos e inaugurações de pontes mínimas enquanto reserva datas e horas cativas para um chiqueirinho e lives escatológicas. Ele nunca governou, sendo que agora mais do que nunca.

Enquanto um funk imbecil faz um imbecilóide dançar, uma nação inteira borbulha no caos. Ele, o inominável, acatou um conselho da ala ideológica, que na partitura desse conluio ruidoso quer dizer estirpe nazista, e reservou R$ 1,736 bilhão no orçamento para reajuste de salários da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Tendo como pano de fundo a esperança do apoio inconteste das polícias na opressão de opositores e na instauração do medo e desequilíbrio institucional durante a campanha eleitoral. Sendo que essa composição do gabinete do ódio, de uma só vez transforma as polícias em milícias e funda uma das maiores traições ao funcionalismo público. O resultado do melô da traição é trágico: mais de 500 auditores fiscais espalhados nas regiões do Brasil entregaram seus cargos de confiança. Sendo eles os principais operadores da fiscalização fiscal, de tudo que circula, entra e sai do país. Sem instrumentos fica difícil da banda da arrecadação tocar.

Existe a real possibilidade de um efeito cascata no funcionalismo público, afinal o trabalhador não entenderá que chibatadas no lombo sejam melodias para cantar e dançar. Em vésperas de um ano eleitoral o mandatário prova para o seu próprio funcionário público que ele governa apenas para aqueles aliados prestes a se transformarem em milicianos. O canto da sereia da mídia corporativa perdeu o seu encanto: nem combate à corrupção; nem avanço econômico e social com reformas e privatizações; nem nova política coisa nenhuma. No centro de tudo resta o Centrão. Resta a vergonha nacional do poder judiciário e a vergonha desavergonhada da mídia corporativa pelo apoio insofismável da barbárie nazista, formando um par solitário que dança no meio do salão em evento patrocinado pelo caos.

Mas essa cantilena de absurdos e escândalos morais que assolam a maior crise de idoneidade das autoridades públicas brasileiras, está muito longe de acabar. O coro dos negacionistas em uma milícia religiosa dão continuidade ao som do caos. O ministro da saúde em exercício bélico se junta ao patrulhamento oficialesco que boicota as estratégias de combate à pandemia e tenta cercear o direito à vida do povo brasileiro, garantido no artigo quinto da Constituição. Protelar e negar a vacinação de crianças é atentar contra o povo brasileiro, em um ato de barbárie medievalesco e terraplanista. O pano de fundo desse novo ato terrorista, de mais uma traição do povo brasileiro é a certeza da impunidade, que é de fato a essência do funk do caos. Mais do que nunca é preciso seguir o conselho de outro grande poeta brasileiro, Torquato Neto, é preciso que o povo desafie esse funk ordinário, é preciso que o povo “desafine o coro dos contentes”.

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