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Experiência da Interação entre IFCE e a Comunidade do Gesso. Por Flávia Cristiana da Silva

ByTarso Araújo

set 24, 2021

 

Por Flávia Cristiana da Silva

Professora

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Desde o início do meu ingresso como docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) do Juazeiro do Norte, tive o desejo de dialogar com as comunidades da região do Cariri, enfatizando a prática pedagógica como facilitadora do processo de ensino-aprendizagem. Com isso, ao morar próximo a comunidade do Gesso (Crato-CE) e conhecer algumas pessoas da localidade, comecei a ter um contato mais próximo e afetivo com o lugar. E no decorrer do convívio, o encantamento só foi aumentando, pois via muita vida e articulação cultural naquele espaço.

Ao conhecer o Alexandre Lucas, integrante do Coletivo Camaradas (sediado na própria comunidade), comecei a articular possíveis diálogos entre o IFCE e a comunidade do Gesso, inicialmente com o desejo de apresentar as suas potencialidades para os discentes e tirar qualquer estigmatização que existia sobre a mesma como, por exemplo, a frase “da linha do trem pra lá”, remetendo a separação social de uma classe inferior, como nos expos Alexandre Lucas. Assim, a intenção era levar os alunos do IFCE para a comunidade e, também, levar a comunidade para o IFCE.

E assim, foi feito. Em projeto de extensão com alunos da graduação de diversas áreas do conhecimento, fizemos o intercâmbio com a comunidade. Descobrimos que no início do século XX a localidade, que hoje é conhecida como a comunidade do Gesso, era um depósito de pedras de gipsita, onde vinham e iam de trem num percurso até Fortaleza. E com a grande circulação de pessoas naquele espaço, tornou-se um lugar de vulnerabilidade social.

Mas, com as ações realizadas na localidade e também com a formação do coletivo Camaradas que foi criado em 2007 por artistas, estudantes, professores, pesquisadores e moradores da Comunidade do Gesso, com o objetivo inicial de criar um processo de organização política de ações em diálogo com a comunidade, fez-se local de articulação, contribuindo no processo de conscientização social dos moradores e que tem criado uma nova narrativa do território.

Pois bem, durante esse processo de conhecimento, diálogo e articulação, desenvolvemos algumas ações na localidade como, por exemplo, feitura de uma escada ecológica melhorando a passagem dos transeuntes ao atravessar a linha do trem; oficinas de jogos de raciocínio lógico e brincadeiras; entre outras. E, também, levamos algumas crianças e adolescentes da comunidade do Gesso para visitar o IFCE, conhecer a sua estrutura e participar de workshop sobre Conceitos Básicos de Eletricidade. Um diálogo de mão dupla.

Esse intercâmbio gerou a oportunidade de se criar uma troca mútua entre o conhecimento adquirido nos cursos de graduação do IFCE e o conhecimento da realidade da Comunidade do Gesso. Neste caso, é importante dizer que, não se tratou de transferência de saberes da academia, mas sim de um diálogo, uma construção coletiva de saberes. (FREIRE, 1988).

Dessa forma, acredito que o projeto de extensão produziu trocas de conhecimentos com as diversas áreas envolvidas e, além disso, despertou nos docentes do IFCE o papel de responsabilidade social, já que estudam em instituição pública, e estimulou a reflexão e a crítica sobre várias questões, é como diz FREIRE (1974), a educação sozinha não transforma a sociedade, mas sem ela, tampouco, a sociedade muda.

Todos os desafios encontrados nesta relação geraram muito aprendizado e conquista e, particularmente, toda essa experiência me acrescentou enquanto ser humano, fez-me enxergar possibilidades proporcionando novos conhecimentos. E é evidente o quanto foi/é essencial essa rede de afetos, olhar para um território é perceber as experiências geográficas que por vezes se distinguem e se aproximam, carregando no corpo a marca do espaço vivido, marcas do ser-no-mundo.

 

BIBLIOGRAFIA

FREIRE, Paulo. Educação como Prática de Liberdade. 16ªed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1974.

_________. Extensão ou Comunicação?. 9ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

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