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Dica de leitura – Leia o livro “No útero não tem gravidade”

ByTarso Araújo

ago 27, 2021 #cultura

 NO ÚTERO NÃO EXISTE GRAVIDADE

POR DIA NOBRE

  1. GUARATINGUETÁ, SP: PENALUX, 2021.

 Texto de Shirley Pinheiro Lima

Aluna do Curso de Letras da Universidade Regional da Cariri (URCA) e Colunista do Blog Literário Nordestinados a Ler

 

No útero não existe gravidade é o segundo livro literário da escritora, professora e historiadora cearense Dia Nobre. Publicado em maio de 2021 pela editora Penalux, a obra traz, ao longo de 122 páginas, contos e textos curtos que exploram intimamente as experiências e traumas de uma mulher marcada pela relação conflituosa com a mãe, abordando temáticas consideradas tabus na sociedade atual, tais como pedofilia, abuso sexual e transtornos mentais.

 

O livro é dividido em duas partes e um epílogo, cada qual separada por uma frase que marca o tom do capítulo, antecedida por ilustrações e colagens da artista, e também escritora, paraense, Monique Malcher, responsável ainda pela arte da capa. Composto por textos híbridos, No útero não existe gravidade, é uma obra que não se encaixa em nenhuma definição de gênero literário, segundo a própria autora “livro é o que o leitor diz que é”. Sendo assim, nos deparamos com uma série de textos marcados pela linguagem poética característica da autora, que podem ser lidos tanto como um romance quanto como um conjunto de contos, fragmentados em relatos não lineares de uma protagonista desterritorializada e atravessada por perdas, em especial pelo abandono materno e pelas marcas deixadas por essa mãe, que mesmo morta, está impregnada na vida da filha, sempre presente em suas escolhas e na busca dessa protagonista em estabelecer o controle das próprias situações. “Mamãe é tão divertida, espero que ela morra” (NOBRE, 2021).

Dia Nobre apresenta uma obra intimista de autoficção, destrinchando e elaborando algumas de suas próprias memórias para construção dos caminhos trilhados por essa protagonista. É uma narrativa que desperta o questionamento acerca da maternidade, desconstruindo a imagem que a sociedade patriarcal criou e aprisionou as mulheres, como seres sagrados, feitas para o lar e para o cuidado e dedicação exclusiva dos filhos e marido. É um livro profundo e dolorido, marcado pela melancolia de uma mulher que é várias dentro de si, atravessada por outras mulheres que também são múltiplas em sua completude. Uma obra curta, reflexiva, capaz de revirar o leitor ao avesso, que, ainda que não se identifique com as dores dessa mulher, vai querer protegê-la como parte de si mesmo.

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